Sou um radical.
Não deixo meus cabelos crescerem muito -- e eles crescem rápido! -- e minha barba é feita algumas vezes por semana. Quando muito, quando tenho picos desta minha radicalidade insana, minha barba fica por fazer um semana inteira!
Apesar disto, sou um radical!
Meu guarda-roupa não tem nada de vermelho. Nada. Nada mesmo. Simplesmente não gosto da cor. Nem mesmo a devoção por São Sebastião e por São Jorge me fez gostar da cor. Não gosto e pronto.
E, mesmo com esta falha grave, sou um radical.
Não possuo sequer uma camisa com a famosa imagem do Che Guevara. Motivo: não gosto de assassinos estampados em meus trajes. Tampouco tenho frisson quando vejo Fidel Castro como acontece com muitos. Por que eu, afinal, admiraria um ditador sanguinário, que mantém seu povo na miséria por sua única e exclusiva vontade?
E, ainda assim, sou um radical.
De símbolos não gosto de suásticas, pois me lembram mortes e mais mortes. Tampouco gosto de foices e martelos cruzados, pois me lembram de mais mortes ainda, mortes que ainda se vêem hoje em dia. Acho muito curioso que ainda haja aqueles que dizem que a suástica e a foice-e-martelo são lados opostos. Para mim são ambos a mesmíssima face de uma moeda. Mortes e mais mortes, isto é que são.
E sou eu o radical.
Não coloco bombas, não invado propriedades alheias, não mato em nome de uma ideologia. Mato apenas por motivos práticos: o mosquito que me atrapalha o sono, a formiga que me deu uma ferroada, a barata que invade meu lar e deixa a esposa nervosa. Coisas assim.
Sou mesmo um radical.
Pode ser que talvez esta minha radicalidade toda ainda não seja suficiente... E não é que eu me senti um pouco mais radical neste início de 2011? Pois é! Como se isto pudesse acontecer!
Além de um baita radical, eu me vi, do nada, como um baita admirador de um outro gigantesco radical!
Segundo a página do jornal "O Estado de São Paulo", o Pe. Lodi, uma das maiores lideranças pró-vida do Brasil, é presidente de um "movimento católico dos mais radicais do País". Faltou apenas o jornalista Roldão Arruda, que nada tem de "foca", dizer o que seria a tal radicalidade de Pe. Lodi e seu "movimento".
Pega mal um jornalista experiente lançar termos desta forma e esperar que eles ganhem vida própria, não é mesmo? Ou será que ele subitamente deixou de ser jornalista e virou mero insinuador?
Seria porque o padre usa batina? Seria porque ele prega exatamente o que a Igreja ensina em relação ao aborto? Seria o que exatamente que levou o jornalista a destacar a tal radicalidade do padre e seu movimento?
Vejamos: não deve ser a questão do aborto, pois o que Pe. Lodi faz é exatamente o que a Igreja, o Papa e os bispos e clero que com ele estão em comunhão pregam: que a vida humana tem uma dignidade que lhe é intrínseca que deve ser preservada, jamais estando a mercê de "decisões individuais" como a que defende a ministra Iriny Lopes, da Secretaria de Políticas para as Mulheres.
Tampouco o motivo deva ser porque o padre escreveu contra as tentativas de criminalizar o que muitos vêm chamando de "homofobia". Faltou também o jornalista do Estadão dizer o que seria a já famosa "homofobia". Talvez seja este um dos segredos mais bem guardados das redações da grande mídia no Brasil. Convenhamos que não é nada fácil criar um termo que tem um significado absurdo e o expandir até que nele caiba que até mesmo um sacerdote possa ser acusado de crime se ele apenas repetir um ensinamento milenar e que vem mesmo escrito no coração de cada homem.
Mas é claro que a grande mídia não está nessa sozinha... O que não faltou foi ONG multicolorida para fazer pressão e indicar caminhos nada retos para que este rio de enganação desembocasse no que se chama de PNDH-3.
Mas creio que não é por causa disto que jornalista acusou o padre de radical. Afinal, o que o padre faz que não tenha de ser feito por qualquer católico ciente de sua missão sagrada?
Será que é porque o padre, nem bem Dilma teve tempo decorar seu escritório, já começou a alertar a todos sobre o rumo deste governo? Ah, não... Não deve ser por isto. O Pe. Lodi há muito alerta a todos sobre os governos petistas. E nem é preciso trabalhar no Estadão para saber que Dilma no governo é como um Lula no 3o. mandato, não é mesmo? Palocci, Zé Dirceu, Guido Mantega e outros estão bem aí para mostrar a quem quiser enxergar. E só para quem quiser enxergar.
Mas Roldão Arruda deve entender de radicalidade... No início do ano passado, quando Lula, em seu cálculo eleitoreiro, resolveu jogar para a galera que o aborto e outras questões polêmicas ficariam fora de seu PNDH-3, advinhem quem o jornalista foi procurar? As famosas "Católicas pelo Direito de Decidir"!
Para o jornalista, aquele grupo de senhoras, que não guarda do catolicismo sequer um mísero ensinamento, é voz ativa quando o assunto gira em torno de religião católica. Radical é o padre e seu "movimento". Normalidade são as CDDs e sua luta pelo aborto. Impressionante, não?
Mas a verdade é que o jornalista deu um tiro no pé. Ao chamar de "radical" ao Pe. Lodi, Roldão Arruda não se deu conta que isto é como que um elogio para um católico sério como o bom padre. Talvez quem se incomode com o adjetivo "radical" sejam as "Católicas pelo Direito de Decidir".
O Evangelho, caro jornalista mais despreparado que um "foca", vive-se na radicalidade. É exatamente quando o mundo diz "sim" que dizemos "não"; é quando os jornais lançam vãos louvores aos que entram pela porta escancarada que nós nos apertamos para passar pela estreira abertura que nos resta. E o fazemos exatamente por saber que é este o único caminho, e mesmo debaixo dos maiores impropérios que nos são lançados.
É fácil dar de ombros em relação aos milhões de mortes de crianças abortadas por todo o mundo anualmente. Elas não gritam, não aparecem em manchetes, não pautam textos jornalísticos com pesquisas mentirosas, não arrumam verbas federais e internacionais, não fazem lobby...
De radicalismos um verdadeiro católico entende bastante, pois o vive diariamente. Talvez não seja bem o radicalismo que vai na mente do jornalista Roldão Arruda, mas fazer o que, não é mesmo? Ele acha que as "Católicas pelo Direito de Decidir" têm alguma parte com o catolicismo! Só por isto dá para saber o quanto ele entende do assunto sobre o qual quer escrever...
Nós, os radicais, insistimos para que os gritos das milhões de vozes silenciadas pelo aborto sejam ouvidas. Eu estou muito feliz com o lado que escolhi. Difícil mesmo deve ser para quem tem que justificar centenas de milhões de mortes de seres inocentes e frágeis.
Não há "direito de escolha" que justifique isto. Mas o que sei eu? Sou só um radical...