O senhor André Petry é um dos maiores ativistas pró-aborto do Brasil. Digo isto sem quaisquer exageros. Ele atinge alturas jamais imagináveis até mesmo pelas mais ferrenhas feministas abortistas. Isto não é pouca coisa...
Nesta semana, o STF dará início a uma outra audiência pública para ouvir argumentos pró e contra a legalização do aborto de fetos anencéfalos. Sem (ainda) entrar no mérito desta audiência, note-se a pressa do Sr. Petry em mais uma vez utilizar sua coluna semanal na revista de maior circulação no país para atacar seus alvos prediletos: os pró-vida e a Igreja.
O esmero de André Petry é tão grande em sua causa que ele tornou-se o primeiro espécimen documentado de um novo tipo de abortista: o abortista visionário. Na coluna desta semana, o articulista alerta seus eleitores para um "ardil" que será usado por aqueles que são contra o aborto de fetos anencéfalos. Segundo o mágico Petry, os pró-vidas utilizarão o caso da menina Marcela de Jesus, recentemente falecida, para demonstrar que anencéfalos podem sim viver bem mais do que se pensava. O presdigitador Petry chama a divulgação do caso da menina Marcela de Jesus de "ardil". É seu direito; nada contra.
Exerço também o meu direito: o caso de Marcela de Jesus deveria ser mais divulgado ainda. Não fosse a imprensa abortista, encabeçada por gente como o senhor Petry, um caso como o de Marcela de Jesus chegaria ao conhecimento de muito mais gente. Mas o fato é que o caso de Marcela de Jesus incomoda um bocado de gente, entre elas o senhor Petry.
Agora, perguntemos: por que a vida de Marcela de Jesus não pode ser um argumento? O senhor Petry e outros que seguem seu pensamento espetaculoso sabem perfeitamente que casos como o de Marcela de Jesus ganham relevância na literatura médica. Eles sabem disto, mas, como em um passe de mágica, olham para o outro lado. Este truque é velho. Não cola mais. O ás na manga ou a cartola de fundo falso perdem toda a graça quando sabemos que Marcela de Jesus viveu pouco mais de 1 ano e 8 meses entre nós, que foi profundamente amada por sua mãe, que com coragem que só os puros de coração possuem dedicou-se com todo o afinco a cuidar da menina desde o seu nascimento. Ah, sim... O articulista-mago chama uma atitude assim de "dar à luz a morte". Dona Cacilda, mãe de Marcela de Jesus, não deve ter a menor idéia sobre o que André Petry está falando.
Mesmo falecida, a menina não os deixa em paz. Incomoda tanto, mas tanto, que o mago Petry é capaz de antecipar que Marcela de Jesus será usada como argumento. E o faz alertando a todos que isto será um ardil. "Ardil"? Ardiloso é o senhor André Petry, que sutilmente -- bem... nem tanto -- tenta antecipar um legítimo movimento pró-vida, toscamente classificando-o como um "ardil".
Literalmente, o senhor Petry escreveu em sua coluna "(...) tomar o exemplo de Marcela, o milagre divino, o símbolo antiaborto, para proibir a interrupção da gravidez de fetos sem cérebro é exploração desonesta da tragédia alheia". Na verdade, desonestidade é querer varrer Marcela de Jesus para baixo do tapete pelo simples fato de que ela incomoda os planos obscuros daqueles que se dizem defensores das pobres mulheres.
Assim como também é desonestidade que agora venham sendo divulgadas informações de que Marcela de Jesus não foi uma verdadeira anencéfala, que seu problema seria outro. O Mister M do jornalismo André Petry até dá voz a uma pediatra que examinou Marcela de Jesus e que concluiu que ela não era, afinal de contas, "um bebê sem cérebro". Hummm... Ok. Houvesse a menina morrido ainda no útero ou alguns minutos após o parto, conforme o roteiro deste pessoal, duvido muito que alguém viesse a público para dizer que ela não era anencéfala. O que incomoda esta gente é que a menina viveu 1 ano e 8 meses, que sua mãe a tenha amado como a qualquer um de seus filhos, que ela não tenha "dado à luz a morte".
O mais impressionante, porém, é que o senhor Petry não tenha feito o dever de casa -- esquecimento, talvez? -- e não saiba que a anencefalia pode apresentar-se em diversos graus, vindo daí que alguns portadores desta anomalia possam viver até meses após o nascimento. Ou seja, um bebê com anencefalia não quer dizer que seja "sem cérebro", mas, na maioria das vezes, há partes defeituosas ou faltantes. Marcela de Jesus teve um grau de anencefalia que lhe permitiu viver durante bastante tempo; fazer malabarismos retóricos para enganar a muitos e dizer que ela não era anencéfala pode funcionar em um palco. Cá entre nós, não. Se alguém ler isto, tenha certeza: é um ardil.
Para finalizar, o senhor Petry em sua coluna escreveu que seria um ardil caso alguém falasse que "ainda pode haver centenas de Marcelas vivendo anos a fio". Quanto aos "anos a fio" eu não sei, nem ele sabe, ninguém sabe. Aliás, custa-me a acreditar que o jornalista queira dizer que a quantidade de anos de uma vida é parâmetro para que ela valha a pena ser preservada. Caso ele realmente tenha pretendido isto, seria o caso de ele dizer a todos nós o quanto de tempo ainda lhe resta. 1 ano? 2 anos? 3 meses? 4 minutos?
Já quanto às "centenas de Marcelas", eu lhe sugeriria que desse uma olhada no site http://www.anencephaly.net. Lá ele poderá ver algumas histórias de famílias que passaram pela experiência de trazer ao mundo um filho anencéfalo. E estes são apenas alguns poucos casos! Garanto que por lá ninguém sabe o que quer dizer "dar à luz a morte". Só mesmo o senhor Petry e seus passes de mágica para saber o que isto significa.