Apesar de o Pe. Euteneuer escrever para os católicos norte-americanos e para as eleições que por lá ocorrerão no próximo dia 4 de novembro, sua exposição da Doutrina é cristalina. Há padres brasileiros que fariam muito bem em lê-lo.
Vergonhosamente, aqui no Brasil, caso o abortista Barack Obama fosse candidato a alguma coisa, ganharia fácil. Se brasileiros fossem eleitores nos EUA, seria de esperar que a vitória de Obama fosse muito mais fácil.
E por que isto acontece? A questão principal é a total indiferença da população em geral pela mais importante questão dos dias atuais: o respeito à vida.
Durante estas últimas eleições municipais não poucas vezes pudemos ouvir alguém dizer que o aborto não deveria ser uma questão, pois outros problemas das cidades eram questões bem mais urgentes. Este é um erro de proporções gigantescas, que só demonstra ainda mais a indiferença reinante nos eleitores. Vide o caso de Luiza Erundina, que, quando prefeita da cidade de São Paulo, foi a pioneira do chamado "aborto legal" em nosso país.
Em um país de maioria católica, podemos concluir que à indiferença por uma questão como o respeito à vida soma-se o desprezo pelo que ensina a Santa Igreja por parte de muito que se dizem fiéis. E nem é o caso de acharmos que tais atitudes somente vêm dos chamados "católicos de IBGE", que são aqueles que apenas dizem-se católicos, sem nunca se preocuparem em viver de acordo com a religiãos que professam.
O mais preocupante é que podemos até mesmo ver pessoas que têm participação ativa na vida paroquial fazerem pouco caso -- desprezam mesmo -- de ensinamentos claríssimos do Magistério. Nem mesmo quando confrontadas com a verdade expressa em documentos oficiais dão ouvidos à razão. Não é à tôa que o orgulho é o fundamento de todos os vícios e pecados...
Uma mãe qualquer, não-católica, que forneça preservativos a seus filhos é escandaloso, primeiramente porque vai contra a Lei Natural, que é comum a todos os homens, e, em segundo lugar, passa a mensagem totalmente errada a seus filhos de que, façam o que fizerem, cuidem apenas para que seus corpos não se contaminem. Já uma mãe católica que tem a mesma atitude comete um ato ainda mais abominável, pois além de demonstrar desprezo pelo que ensina a Igreja da qual diz fazer parte, contribui para que em seus filhos germine o mesmo desprezo.
Se o sal perde seu sabor, para que ele serviria mesmo?
É a estes católicos insossos que o Padre Euteneuer direciona seu artigo. São a pessoas como os eleitores de Marta Suplicy, que resolvem olhar para o outro lado quando são confrontados com o favorecimento ao aborto por parte de sua candidata.
A estes o padre dá um recado claríssimo: o respeito à vida é A QUESTÃO dos dias atuais. Um ato intrinsecamente mau não pode ser relativizado jamais!
Um católico que, ao decidir seu voto, deixa de lado a questão do aborto, corre o risco tanto de contribuir para a Cultura da Morte quanto para, no futuro, distribuir camisinhas para seus filhos adolescentes e enganar-se pensando que isto é contribuir para o Reino de Deus.
A seguir, o excelente texto do Pe. Euteneuer (original aqui).
O voto católico
Padre Thomas J. Euteneuer
Fui solicitado por muitas pessoas para que eu as ajudasse a esclarecer o ensinamento católico sobre como exercer o direito ao voto, especialmente no que diz respeito ao tema do aborto. Há diversos candidatos em toda a nação com plataformas sobre diversos assuntos, e os católicos estão tentando tomar uma decisão correta, desta forma mostrarei a posição da Igreja tão inequivocamente quanto possível com o intento de educar aos fiéis e não como uma confirmação de qualquer candidato ou candidatos em particular: verdadeiros católicos não são eleitores de um único tema -- somos eleitores com princípios. Isto determina a quais candidatos damos nosso voto e também o estado de nossas almas após votarmos.
Com respeito ao tema do aborto, o princípio em questão é a impossibilidade moral de que um católico coopere com um ato ou uma instituição que é "intrinsecamente má". Algo que é "intrinsecamente mau" não apenas é uma coisa ruim: é uma coisa horrível, hedionda, que ultrapassa quaisquer outras considerações morais, e jamais podemos legitimamente cometer tal ato ou aprová-lo quando cometido por outrem. Votando em um candidato que defende a matança de inocentes bebês não nascidos mostra aprovação ou inaceitável tolerância deste hediondo crime contra a humanidade, e católicos jamais devem fazê-lo em boa consciência. O Catecismo da Igreja Católica chama tal atitude e ação uma "cooperação formal" com o mal (#2272). Isto não significa que eu me comprometo com o mal, significa que dou minha concordância a ele e que fiz o possível para uma pessoa em um cargo público dar continuidade ou alavancar o mal na sociedade.
Cooperação formal no mau ato perpetrado por uma outra pessoa é pecado, e, dependendo da gravidade deste ato, esta cooperação pode ser um pecado mortal. Já que um aborto procurado é um ato intrinsecamente mau, e toda promoção deste cairá na mesma categoria moral, votar por um candidato que o defende é um pecado mortal. Adicionado ao pecado de cooperação formal com o mal está o pecado de desobediência à legítima autoridade da Igreja. Até esta data, a Conferência Episcopal dos Bispos Norte-Americanos e vários outros bispos norte-americanos têm esclarecidos estes princípios para os católicos, e seus ensinamentos não poderiam ser mais claros.
E mais ainda, há o pecado do escândalo que um número deplorável de padres e religiosos estão criando devido a sua aterradora visão sobre o que ensina a Igreja, divulgada tanto nos púlpitos quanto fora deles. Pais católicos e professores igualmente contribuem para o escândalo quando não ensinam às crianças princípios morais ou quando não procuram formar suas consciências de acordo com a Verdade que está em Cristo.
Alguns perguntam se um católico pode votar em alguém cujas políticas favoreçam uma agenda que está alinhada com o ensinamento da Igreja Católica em sua maior parte. Perguntam também "e se um católico discorda com a posição do candidato sobre aborto, mas ainda assim quer votar por este candidato por outras razões consistentes com nossos valores?" Aqui a Igreja usa o termo "razão proporcional" para indicar que deve haver algum tipo de equilíbrio na posição que indique que é provável que um bem maior seria alcançado para a sociedade apesar do mal que é defendido pelo candidato. Racionalização proporcional geralmente tem a ver com posições que não sejam intrinsecamente más ou que, caso sejam, constituiriam uma parte mínima da plataforma, de tal forma que o mal tivesse peso irrisório nos planos do candidato. De acordo com o princípio acima, contudo, a medida com que o candidato promoveria algo tão hediondo quanto o aborto pode literalmente anular todo o bem que ele faria pela humanidade! Quando o direito fundamental é negado pela sociedade, quaisquer direitos e bens são igualmente ameaçados. O fundamento moral de todos é devastado. Desta forma, a resposta tem que ser não; não é legítimo discordar sobre uma posição pró-aborto e ainda assim votar por um candidato que tenha esta posição.
Deve um católico votar em um candidato "imperfeito" se o opositor, um radical pró-aborto, é pior ainda? A Igreja diz que sim, mas apenas se o voto não é a expressão de concordância com os elementos "imperfeitos" da política do candidato e apenas se o voto é dado para limitar o mal que seu opositor inevitavelmente faria.
É realmente lamentável que tenhamos chegado ao ponto onde sejamos obrigados a abdicar de alguns de nossos princípios básicos na cabine de votaçao porque não conseguimos melhores candidatos que estejam dispostos a servir ao bem comum. Esta é uma discussão para uma outra oportunidade, mas eu antecipo que se os católicos não derem importância aos seus princípios de forma enfática o quanto antes, principalmente durante períodos eleitorais, poderemos, em futuras eleições, não ter qualquer escolha que possa satisfazer nossa consciência católica. Que Deus nos ajude e guie no próximo dia 4 de novembro.