"Eis o que diz o Senhor: Maldito o homem que confia em outro homem, que da carne faz o seu apoio e cujo coração vive distante do Senhor!" (Jer 17, 5) |
Se há coisa que pudemos ver nos últimos dias é que a idolatria vai muito bem, obrigado. O falecido líder sul-africano junta-se a outros ícones do mundo moderno e toda uma mitologia sobre suas ações foi criada para elevar-lhe a este posto. Mas parece que Mandela, por causa da cor de sua pele, ganha aura que vai mesmo além do que poderíamos imaginar.
Comunista ferrenho, do tipo que elogia Cuba por seus amplos direitos humanos, Mandela mereceu louvores de gente que nada tem a ver com suas escolhas políticas. Talvez com quem nos abraçamos e sorrimos não diga tanto sobre quem somos e Mandela seria a prova disto, já que ele pode ser visto neste gesto com o Papa João Paulo II ou com a Princesa Diana, e também com Mugabe, Fidel Castro, Kadafi, Arafat, etc. Se Mandela era esta metamorfose ambulante, por que então muitos agora só querem enxergar seu "lado bom"?
Se Stalin apagava seus desafetos das fotos oficiais, hoje em dia, diante desta impossibilidade, em que até uma twittada em momento irascível ficará guardada para todo o sempre, muitos querem que acreditemos que as ações de uma pessoa não dizem mais nada sobre ela. E aí o terrorismo de Mandela vai sendo varrido para debaixo do tapete, a mesma coisa com seu abortismo escancarado, com sua conivência e aproveitamento de empresas comercializadoras de diamante e toda a rede trabalho escravo e assassinatos que isto traz, sua inépcia e despreparo como governante, etc. E a quem tropeça no calombo que toda aquela sujeira acumulou, muitos vêm dizer que a crítica é direcionada à cor de sua pele.
Mesmo? Pois Mandela poderia ser até mesmo verde que seu impenitente terrorismo não traria novamente à vida as pessoas mortas em atentados. Não traria novamente à vida os milhões de não-nascidos que foram mortos por causa de uma das legislações abortistas mais liberais em todo o mundo. Não traria novamente à vida ou sequer daria dignidade às pessoas que as perderam por causa dos diamantes de sangue cujo comércio ele defendeu.
A cor de Mandela importa nada perto de suas escolhas. Escolhas não têm cor, têm conseqüências. Humanos que somos, todos cometemos erros, uns maiores, outros menores. E mesmo os maiores erros, mesmo aquele pelos quais sofreremos as conseqüências até o resto de nossas vidas, um sincero pedido de perdão tem o poder de nos recolocar no caminho correto e também dar o exemplo aos irmãos, o que é fundamental para uma figura pública que tenha consciência de seu papel.
Mandela não fez nada disto... Terrorista na juventude, ele não pediu perdão por seus atos. É mais ou menos como a presidente Dilma... E chega a ser engraçado ver gente que não hesitaria em chamar a presidente de terrorista e que se mostra cheia de dedos no caso de Mandela.
Mandela foi um baita abortista, e mesmo assim muitos querem -- até no meio pró-vida! -- que este fato seja esquecido e que as mortes cruéis de inocentes e frágeis seres humanos não sejam sequer uma nota de pé de página na hagiografia do mais novo santo moderno.
Mandela defendeu o comércio de diamantes, dizendo-se contrário a um filme que expôs um pouco do que acontece na África em relação a isto. Já as mortes, a escravidão, os estupros, nada disto é lembrado como conseqüência de tais escolhas, pois, afinal, nenhuma mancha deve ser lembrada em sua biografia.
Se trabalhar alguns anos como torneiro mecânico e perder um dedo ou ser dona de uma lojinha de R$ 1,99 não qualifica ninguém para ser presidente de uma nação, tampouco passar 27 anos em uma cadeia pelo crime de terrorismo o faz. Resultado: a África do Sul, ainda hoje dominada pelo partido de Mandela e seguindo na estrada que ele pavimentou, está mergulhada em desemprego, em violência, em corrupção, com uma economia em frangalhos, etc. Lá a probabilidade de uma mulher ser estuprada é maior do que ela terminar o 2o. grau. Mas, claro, depois da soltura de Mandela a África do Sul ganhou um salvo-conduto da mídia mundial, pois mostrar seus problemas poderia respingar na figura do estimado líder. E então ficamos com a África do Sul da Copa do Mundo e do filme "Invictus".
A morte de Mandela deixou claro que a maioria gosta mesmo é de ter um ídolo para chamar de seu. E quando alguns mostram que os ídolos são apenas defeituosas criações humanas, a queda para muitos parece estar além do suportável, e daí vem as acusações, as agressões, o histerismo, coisa típica de quem vê um ídolo desmanchar-se diante de seus olhos.
Mandela teve pontos positivos? Claro que sim! Evitar um banho de sangue quando da época de sua libertação foi o maior deles. Ponto para ele! Mas mesmo isto não apaga o que ele fez e os métodos que utilizou, coisas das quais ele não mostrou arrependimento. Ninguém deve ser protegido de sua própria biografia... Será que não aprendemos nada com os péssimos exemplos recentes de Caetano, Gilberto Gil e Chico Buarque?
A santidade, a verdadeira santidade, dá trabalho, é uma luta diária, uma luta feita de quedas e mais quedas. Mas principalmente é feita de inúmeros e reiterados pedidos de perdão porque nos sabemos humanos e necessitados até mesmo do perdão de nossos semelhantes. E, de mais a mais, até onde eu sei, não utilizar meios ruins para atingir um fim bom vale para mim, para você que está lendo, para o papa e, veja só!, até mesmo para Mandela.
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