Era uma vez um advogado famoso... Seu nome era Dr. Bastos. Ético, eficiente, sempre voltado aos interesses de seus clientes, ela era reconhecido por seus pares como um exemplo a ser seguido. Dr. Bastos era tão bom no que fazia que até mesmo dava aulas na universidade federal de seu estado. Resumindo: Dr. Bastos era um profissional competentíssimo e que era procurado por clientes das mais diversas parcelas da população para ajudá-los com os mais variados problemas.
Um dia, porém, Dr. Bastos viu-se diante de uma situação inusitada. Um conhecido cliente seu, a quem ele já havia representado em outros casos, e com quem até mesmo tinha uma relação de amizade, entrou em seu escritório com o semblante pesado, o que era o indicativo de problema grave. Dr. Bastos, advogado competente, manteve a calma que sempre o caracterizou, fez seu cliente sentar-se e indagou o que o estava transtornando.
"Estou com um grave problema, Bastos" -- disse o amigo/cliente. Dr. Bastos, tranqüilo, pediu-lhe que se acalmasse e começasse a contar o problema desde o início.
O desconforte de seu amigo era nítido, mas, após algumas hesitações, ele foi direto ao ponto. "Bastos, o negócio é o seguinte... Venho aqui muito mais como cliente do que como amigo. Meu problema... É... Meu problema é que meu filho, a quem você bem conhece, tem causado muitos problemas a mim e à minha mulher. Muitos mesmo! Não tenho mais agüentado!".
Dr. Bastos, compreensivo como só os bons advogados sabem ser, fez um gesto para que seu amigo continuasse a desabafar. E seu amigo continuou: "E é por isto que eu venho aqui te pedir que me ajude a me livrar deste problema."
Dr. Bastos fitou seu amigo durante um longo minuto, esperando que ele continuasse. Mas seu amigo não continuou. Dr. Bastos então perguntou-lhe como lhe poderia ser útil. "Bastos, você é testemunha de que nestes 15 anos eu tentei de tudo com aquele menino. Mas nada dá certo... Nada!"
Dr. Bastos ficava mais ansioso a cada momento, em parte pelo desespero do amigo e em parte porque gostaria de saber em que poderia ajudá-lo.
Após, respirar fundo, como que para tomar coragem, seu amigo continuou: "Bastos... Vou ser direto: quero que você me ajude a acabar com este problema. Eu preciso que você me indique os métodos mais eficientes resolvê-lo."
Então Dr. Bastos, sentiu que deveria falar algo. "Veja bem... Você poderia enviá-lo para estudar em algum colégio interno, de preferência um bem longe. Quem sabe fora do país? Assim vocês apenas se encontrariam em feriados, férias..."
Mas ele foi interrompido por seu amigo. "Não! Isto não é suficiente! Já pensamos nisto lá em casa e não nos satisfaz coisa assim. Queremos algo como isto aqui, veja!" E ele tirou do bolso interno de seu paletó um exemplar da revista "Veja". Folheou algumas páginas e indicou ao Dr. Bastos um trecho, marcado a caneta, em que um médico, Dr. Osmar Ribeiro Colás dava o seguinte depoimento sobre o que ele entendia ser seu dever ético para com suas pacientes:
"Mas... Mas não estou entendendo..." -- foi o que conseguiu falar Dr. Bastos. "O que você quer que eu faça?"
"Não quero que você efetivamente faça nada! Quero apenas teu conselho sobre o modo mais eficiente em "abortar" meu filho". E fez o gesto com as mãos como se estivesse colocando haspas na palavra abortar.
Estupefato, Dr. Bastos levantou-se da cadeira, como se tivesse tomado um choque. "Como assim "abortar"? Matar teu filho? É isto que você quer que eu faça?"
"Não, não, não! Bastos, entenda bem o que eu quero que você faça. Quero que você faça como este Dr. Colás e apenas me diga quais métodos seriam mais eficientes para que eu pudesse resolver este meu problema. Apenas isto e nada mais que isto!"
Ainda em pé e cada vez menos crédulo no que ouvia, Dr. Bastos não conseguia colocar os pensamentos em ordem.
"E, claro," -- continuou seu amigo -- "quero também que, assim como o Dr. Colás, você também me acuda caso haja alguma complicação depois do "procedimento"."
Dr. Bastos começou então a andar de um lado para outro em seu escritório, pensando em tudo o que ouvira. Pensava e pensava e não conseguia compreender o que estava acontecendo.
"Você tem consciência do que está me pedindo? Quer que eu seja cúmplice em um crime?"
"Claro que não, Bastos! Eu mesmo farei o "aborto" ou arrumarei quem o faça!"
Dr. Bastos continuava a andar sem parar, tentando acalmar os nervos. Ele jamais havia, em seus anos de prática, passado por tal situação.
Seu amigo, vendo a ansiedade do bom advogado, resolveu tentar convencê-lo mais ainda: mostrou-lhe um outro trecho, igualmente destacado à caneta, na mesma edição de "Veja". Neste trecho, o Dr. Malcolm Montgomery assim se pronunciava:
Dr. Bastos, tomando um pouco de fôlego, tentou ser racional. "Veja... Eu sou um profissional respeitado!".
"Mas eles também são!" -- retrucou, impaciente, o pai desesperado.
"Sou professor universitário!"
"Dr. Colás também é!" -- bradou o amigo, batendo com a ponta do dedo no trecho da revista.
"Eu sigo um Código de Ética!"
"E você acha, Bastos, que este médicos também não seguem? Seguem! E não viram problema algum em orientar às suas pacientes que querem abortar, mesmo que o aborto seja crime em nosso país. O próprio Dr. Colás deixa uma dica e tanto para quem quer abortar. Veja! Veja!" E apontou para um outro trecho da reportagem:
Nada convencia seu amigo do absurdo de seu pedido, convenceu-se Dr. Bastos. Ele começou então a pensar que até seria interessante testar os limites da Lei desta forma, que seria um bom caso a ser demonstrado perante seus alunos, etc. Pensou que seu nome seria bem visto entre um pessoal que se dizia "progressista". Pensou também que, quem sabe?, um dia ele pudesse estar nas páginas de "Veja" como o advogado que jamais deixa seus clientes na mão. Afinal, pensou ele, não é para isto que ele resolveu ser advogado?
"Tá bom! Tá bom! Você me convenceu. Em alguns dias eu te passarei os métodos para você "abortar" teu filho." -- disse Dr. Bastos, já pensando no reconhecimento nacional que viria através das páginas da revista e também fazendo o gesto com as mãos desenhando haspas imaginárias.
E despediu seu cliente/amigo. Ele sabia que quanto menos envolvimento melhor.
Passados alguns dias, Dr. Bastos recebeu a visita de um outro advogado. Ele apresentou-se como representante legal do filho de seu amigo e disse que estava ali para impedir de todas as formas que Dr. Bastos e o pai de seu cliente levassem à frente suas intenções.
E impediu mesmo! Dr. Bastos foi expulso da Ordem do Advogados e teve também que abandonar seu posto na universidade. Seu escritório, devido ao escândalo, perdeu a maioria dos clientes, que jamais entenderam a ambição de Dr. Bastos ser tamanha ao ponto de indicar os métodos para um pai matar seu filho. Para seus clientes, não havia capa de revista que justificasse o que eles queriam fazer.
Ao final, Dr. Bastos aprendeu a lição. Os pais do menino, que está vivo até hoje, parece que se arrependeram também.
Tudo graças ao advogado que deu ouvidos ao menino quando este entrou em seu escritório contando a mirabolante história de que ouvira seus pais conversando sobre como abortá-lo, e que, para isto, estavam até mesmo utilizando os serviços de um advogado. Não fosse este advogado, o final seria certamente outro. Talvez até mesmo com uma capa em "Veja".
O lamentável é que os filhos das pacientes dos doutores que aparecem dando depoimentos em "Veja" não tenham voz para também se defenderem das intenções de seus pais e nem para sequer reclarmar daqueles que acham que têm como dever ético orientar sobre a forma mais eficiente para terminar com suas vidas.
O tal "dever ético", para estes filhos, é apenas a senha de entrada para a lixeira de uma clínica abortista ou para a privada da casa de seus pais.
Um dia, porém, Dr. Bastos viu-se diante de uma situação inusitada. Um conhecido cliente seu, a quem ele já havia representado em outros casos, e com quem até mesmo tinha uma relação de amizade, entrou em seu escritório com o semblante pesado, o que era o indicativo de problema grave. Dr. Bastos, advogado competente, manteve a calma que sempre o caracterizou, fez seu cliente sentar-se e indagou o que o estava transtornando.
"Estou com um grave problema, Bastos" -- disse o amigo/cliente. Dr. Bastos, tranqüilo, pediu-lhe que se acalmasse e começasse a contar o problema desde o início.
O desconforte de seu amigo era nítido, mas, após algumas hesitações, ele foi direto ao ponto. "Bastos, o negócio é o seguinte... Venho aqui muito mais como cliente do que como amigo. Meu problema... É... Meu problema é que meu filho, a quem você bem conhece, tem causado muitos problemas a mim e à minha mulher. Muitos mesmo! Não tenho mais agüentado!".
Dr. Bastos, compreensivo como só os bons advogados sabem ser, fez um gesto para que seu amigo continuasse a desabafar. E seu amigo continuou: "E é por isto que eu venho aqui te pedir que me ajude a me livrar deste problema."
Dr. Bastos fitou seu amigo durante um longo minuto, esperando que ele continuasse. Mas seu amigo não continuou. Dr. Bastos então perguntou-lhe como lhe poderia ser útil. "Bastos, você é testemunha de que nestes 15 anos eu tentei de tudo com aquele menino. Mas nada dá certo... Nada!"
Dr. Bastos ficava mais ansioso a cada momento, em parte pelo desespero do amigo e em parte porque gostaria de saber em que poderia ajudá-lo.
Após, respirar fundo, como que para tomar coragem, seu amigo continuou: "Bastos... Vou ser direto: quero que você me ajude a acabar com este problema. Eu preciso que você me indique os métodos mais eficientes resolvê-lo."
Então Dr. Bastos, sentiu que deveria falar algo. "Veja bem... Você poderia enviá-lo para estudar em algum colégio interno, de preferência um bem longe. Quem sabe fora do país? Assim vocês apenas se encontrariam em feriados, férias..."
Mas ele foi interrompido por seu amigo. "Não! Isto não é suficiente! Já pensamos nisto lá em casa e não nos satisfaz coisa assim. Queremos algo como isto aqui, veja!" E ele tirou do bolso interno de seu paletó um exemplar da revista "Veja". Folheou algumas páginas e indicou ao Dr. Bastos um trecho, marcado a caneta, em que um médico, Dr. Osmar Ribeiro Colás dava o seguinte depoimento sobre o que ele entendia ser seu dever ético para com suas pacientes:
"Não posso interromper uma gestação, mas tenho o dever ético de explicar a minha paciente quais são os métodos abortivos e, depois, se necessário, acudi-la"Dr. Bastos leu e releu. Meditou alguns minutos e voltou a encarar seu amigo/cliente.
"Mas... Mas não estou entendendo..." -- foi o que conseguiu falar Dr. Bastos. "O que você quer que eu faça?"
"Não quero que você efetivamente faça nada! Quero apenas teu conselho sobre o modo mais eficiente em "abortar" meu filho". E fez o gesto com as mãos como se estivesse colocando haspas na palavra abortar.
Estupefato, Dr. Bastos levantou-se da cadeira, como se tivesse tomado um choque. "Como assim "abortar"? Matar teu filho? É isto que você quer que eu faça?"
"Não, não, não! Bastos, entenda bem o que eu quero que você faça. Quero que você faça como este Dr. Colás e apenas me diga quais métodos seriam mais eficientes para que eu pudesse resolver este meu problema. Apenas isto e nada mais que isto!"
Ainda em pé e cada vez menos crédulo no que ouvia, Dr. Bastos não conseguia colocar os pensamentos em ordem.
"E, claro," -- continuou seu amigo -- "quero também que, assim como o Dr. Colás, você também me acuda caso haja alguma complicação depois do "procedimento"."
Dr. Bastos começou então a andar de um lado para outro em seu escritório, pensando em tudo o que ouvira. Pensava e pensava e não conseguia compreender o que estava acontecendo.
"Você tem consciência do que está me pedindo? Quer que eu seja cúmplice em um crime?"
"Claro que não, Bastos! Eu mesmo farei o "aborto" ou arrumarei quem o faça!"
Dr. Bastos continuava a andar sem parar, tentando acalmar os nervos. Ele jamais havia, em seus anos de prática, passado por tal situação.
Seu amigo, vendo a ansiedade do bom advogado, resolveu tentar convencê-lo mais ainda: mostrou-lhe um outro trecho, igualmente destacado à caneta, na mesma edição de "Veja". Neste trecho, o Dr. Malcolm Montgomery assim se pronunciava:
"Quando uma mulher está decidida a fazer um aborto, não há quem a faça mudar de ideia. É uma decisão muito pessoal. E, ao longo da carreira, aprendi que não posso ser médico apenas nas horas boas. Se minha paciente não quer levar a gestação adiante, eu devo orientá-la sobre a maneira mais segura de fazer isso. Não posso deixá-la desamparada, sob o risco de sofrer as conseqüências de um aborto malfeito.""Você não pode querer ser meu advogado apenas nas horas boas, Bastos. Por que você não faz como estes médicos e, em vez de ficar andando de um lado para o outro, que de nada adianta, não me ajuda logo com isto?" E continuou logo em seguida: "Também eu e minha mulher não queremos sofrer as conseqüências de um "aborto" malfeito! E eu estou decidido a fazer isto! Não quero que este meu problema vá a frente, exatamente como as pacientes do Dr. Montgomery. Por que você não me ajuda? Sou teu cliente e é tua obrigação ética me ajudar! Por que não faz como estes médicos? Eles não vêem problema algum em ajudar suas pacientes no que for preciso."
Dr. Bastos, tomando um pouco de fôlego, tentou ser racional. "Veja... Eu sou um profissional respeitado!".
"Mas eles também são!" -- retrucou, impaciente, o pai desesperado.
"Sou professor universitário!"
"Dr. Colás também é!" -- bradou o amigo, batendo com a ponta do dedo no trecho da revista.
"Eu sigo um Código de Ética!"
"E você acha, Bastos, que este médicos também não seguem? Seguem! E não viram problema algum em orientar às suas pacientes que querem abortar, mesmo que o aborto seja crime em nosso país. O próprio Dr. Colás deixa uma dica e tanto para quem quer abortar. Veja! Veja!" E apontou para um outro trecho da reportagem:
"Há inúmeros sites na internet que vendem o remédio""Foi uma dica meio genérica, eu sei, mas, de qualquer forma, bem válida! Garanto que quem não sabia disto foi procurar no momento seguinte os tais sites. Claro que ajudou muito a revista colocar o nome do medicamento que deveria ser procurado... Sem contar que ainda dão o nome da ONG que os vende pelo correio! É mais ajuda que o necessário!"
Nada convencia seu amigo do absurdo de seu pedido, convenceu-se Dr. Bastos. Ele começou então a pensar que até seria interessante testar os limites da Lei desta forma, que seria um bom caso a ser demonstrado perante seus alunos, etc. Pensou que seu nome seria bem visto entre um pessoal que se dizia "progressista". Pensou também que, quem sabe?, um dia ele pudesse estar nas páginas de "Veja" como o advogado que jamais deixa seus clientes na mão. Afinal, pensou ele, não é para isto que ele resolveu ser advogado?
"Tá bom! Tá bom! Você me convenceu. Em alguns dias eu te passarei os métodos para você "abortar" teu filho." -- disse Dr. Bastos, já pensando no reconhecimento nacional que viria através das páginas da revista e também fazendo o gesto com as mãos desenhando haspas imaginárias.
E despediu seu cliente/amigo. Ele sabia que quanto menos envolvimento melhor.
Passados alguns dias, Dr. Bastos recebeu a visita de um outro advogado. Ele apresentou-se como representante legal do filho de seu amigo e disse que estava ali para impedir de todas as formas que Dr. Bastos e o pai de seu cliente levassem à frente suas intenções.
E impediu mesmo! Dr. Bastos foi expulso da Ordem do Advogados e teve também que abandonar seu posto na universidade. Seu escritório, devido ao escândalo, perdeu a maioria dos clientes, que jamais entenderam a ambição de Dr. Bastos ser tamanha ao ponto de indicar os métodos para um pai matar seu filho. Para seus clientes, não havia capa de revista que justificasse o que eles queriam fazer.
Ao final, Dr. Bastos aprendeu a lição. Os pais do menino, que está vivo até hoje, parece que se arrependeram também.
Tudo graças ao advogado que deu ouvidos ao menino quando este entrou em seu escritório contando a mirabolante história de que ouvira seus pais conversando sobre como abortá-lo, e que, para isto, estavam até mesmo utilizando os serviços de um advogado. Não fosse este advogado, o final seria certamente outro. Talvez até mesmo com uma capa em "Veja".
O lamentável é que os filhos das pacientes dos doutores que aparecem dando depoimentos em "Veja" não tenham voz para também se defenderem das intenções de seus pais e nem para sequer reclarmar daqueles que acham que têm como dever ético orientar sobre a forma mais eficiente para terminar com suas vidas.
O tal "dever ético", para estes filhos, é apenas a senha de entrada para a lixeira de uma clínica abortista ou para a privada da casa de seus pais.