Sou um dos que Dom Eugenio Sales jamais conheceu pessoalmente, mas cuja vida foi tocada por ele.
Batizado quando criança, meu contato com a fé era esporádico e minha espiritualidade se resumia a saber algumas poucas orações que só eram proferidas quando problemas batiam à porta.
Mas como para o Senhor Deus nada é impossível e o Espírito Santo sopra onde quer, um dia a semente da inquietude foi posta no coração de um William adolescente. E com a semente o Altíssimo enviou também a chuva para regar e alimentar aquela pequenina planta: os escritos semanais de Dom Eugenio em um jornal carioca eram lidos sempre que possível. Neles, o bom bispo abordava diversos assuntos: família, costumes, Papa, Igreja, defesa da vida, etc. Nada escapava à sua argumentação e o William adolescente ia aprendendo um pouco, mesmo sem ter disto consciência, a beleza que só o catolicismo possui.
Jamais esqueci que a primeira vez que finalmente alguém me explicou o real sentido da Páscoa foi exatamente Dom Eugenio Sales em um de seus artigos. Guardo-o comigo até hoje.
O tempo foi passando e minha aproximação à verdadeira e única fé levou ainda uns bons anos e uma quantidade imensurável de erros. Porém aquela sementinha lançada pelo Senhor Deus e regada pelo zelo pastoral de Dom Eugênio jamais desapareceu. Com minhas atitudes, minhas dúvidas, minhas reservas, tentei intensamente sufocar tudo, mas como resistir quando Deus nos seduz de tal forma? Um feliz dia, finalmente um William de vinte e tantos anos deixou de resistir e se aproximou da Santa Igreja, a esposa imaculada de Nosso Senhor Jesus Cristo.
E jamais esqueci da importância de Dom Eugenio em todo este processo. Foi ele, mesmo sem saber, o instrumento utilizado pelo Senhor Deus para trazer aquele adolescente aos poucos para junto de Si. Talvez seja exatamente esta a característica dos bons bispos: a prontidão em ser um instrumento nas mãos de Deus, um instrumento pronto e moldável às diversas situações, mesmo que isto signifique escrever artigos para um jornal que seriam lidos por algum adolescente que tateava o mundo que o cercava buscando algum sentido em tudo aquilo
Dom Eugenio jamais fez concessões quando se tratava da fé. Ao contrário de vários que preferem os holofotes e microfones, Dom Eugênio sempre mostrou em sua face serena a firmeza de uma fé inabalável. Seria-lhe muito fácil seguir a última moda ou dizer algo apenas porque assim é mais fácil e será mais palatável. Não poucos são os que fazem isto, sejam bispos, padres e religiosos e religiosas. Infelizmente, os exemplos são muitos e bem conhecidos, pois a mídia os adora. Mas não foi assim com Dom Eugenio, sua firmeza inspirada no Evangelho rendeu-lhe incompreensões, insultos, acusações, que buscavam atingi-lo e também, principalmente, atingir a Santa Igreja que ele tanto amava.
E foi exatamente este amor pela Santa Igreja uma das primeiras coisas que aprendi com Dom Eugenio e, com a Graça de Deus, serei capaz de amá-la até o fim de meus dias.
Que o Senhor Deus, sempre presente na vida de Dom Eugenio, tenha piedade de sua alma e o leve para junto de Si, após o árduo e bom combate que ele aqui travou.