A Internet é uma invenção fantástica, não é mesmo? Poder comunicar-se praticamente sem fronteiras, de forma imediata e eficiente, é uma verdadeira dádiva. O mundo blogueiro então é uma verdadeira festa, no qual podemos ver de tudo. Desde o skinhead que abre todo o leque de seu ódio até pessoas altamente preparadas que desejam mesmo compartilhar algo com o próximo.
Claro que existem aqueles que apenas querem expor suas intimidades como se isto fosse coisa que interessasse lá a alguém. Existem aqueles que criam um blog apenas como um exercício ininterrupto de auto-louvação e auto-mimo. Existem as panelinhas, aqueles que lêem e comentam os blogs uns dos outros, não se interessando em nada mais que trazer para o virtual algo que nada mais faz que imitar, mal e porcamente, o que deveria ser uma relação real entre amigos. Sinal dos tempos, talvez...
Os blogs nos deixam ver como as pessoas são opiniosas. Sobre tudo!! Até aí, nada de mais... O problema é quando tais pessoas acham que opinião é bater o pezinho, falar qualquer besteira sem fundamento algum e dizer um monte de frases politicamente corretas sem gastar para isto nem que seja 1 segundo de pensamento sereno.
Num ambiente democrático e livre, é natural e positivo que as pessoas sintam-se à vontade para exprimirem suas opiniões. Só que opinar por opinar, sem fundamentar bem suas opiniões, não acrescenta nada a quem quer que seja. Talvez seja um vício que veio junto com a Internet isto de escrever a primeira coisa que passa à cabeça. O saudável hábito de meditar um assunto, de escolher as palavras que se utiliza, de encadear o pensamento, parece estar caindo em desuso. Muitos querem escrever como se este ato fosse como um clip da MTV, no qual os quadros se sobrepõem, a câmera não pára nunca, metáforas inexplicáveis são jogadas em nossos olhos e ouvidos a todo momento. Se o leitor/espectador não entende ou não segue o ritmo, problema dele!
É seguindo esta linha que podemos ler em vários blogs inúmeras pérolas da lógica, do encadeamento de idéias, do desenvolvimento do pensamento. Claro que podemos ler inúmeros textos de má-fé pura e simples, mas estes são minoria, Graças a Deus. A maioria é de gente confusa mesmo, que pensa que opinar é falar mais alto ou coisa equivalente.
Rãs e jacarésA questão do aborto é um prato cheio para que muitos opinem as coisas mais absurdas e sem fundamento. Eis uma pérola pescada nos blogs:
"(...) No caso do aborto, a ciência diz que até determinado tempo de gestação, o embrião não pode ser considerado um ser humano, não diferindo de qualquer ser vivo animal, seja uma rã ou um jacaré. Não tem consciência, dor nem muito menos sentimentos.(...)"
Faltou o blogueiro indicar qual cientista disse isto... Aliás, imagino que muitos embriologistas devem sentir o estômago revirando ao ler que o embrião humano em nada difere de qualquer ser vivo animal, de "uma rã ou jacaré". Eis o problema em escrever a primeira coisa que vem à nossa mente...
E o mesmo blogueiro continua:
"(...)As causas da interrupção espontânea são várias e muitas pessoas que são contra a discriminalização já abortaram e ignoram isso. Não vamos criminalizar a natureza por isso."
Seguindo a lógica do nosso amigo, as mulheres que infelizmente passam pela experiência de aborto espontâneo deveriam, necessariamente, ser favoráveis ao aborto. Lógica curiosa esta... Além do que, o blogueiro parece ignorar que toda a questão gira em torno do aborto procurado e não do aborto espontâneo, que é, este sim, uma fatalidade e ocorre naturalmente.
Os ataques de praxe à Igreja...Obviamente, em determinado momento o blogueiro passa a atacar a Igreja, como já é mais que comum nesta questão.
"(...) A origem disso é o beco sem saída que a estratégia de marketing da igreja criou. Como forma de garantir a filiação de novos católicos, a igreja estabeleceu a regra de se batizar ainda bebês, os novos adeptos. Criou-se todo um mito de salvação da alma para que a prática tivesse algum significado.(...)"
Sei lá de onde ele tirou isto, seria o caso de ele fundamentar e demonstrar uma tal afirmação. Até onde sei o batismo de crianças é práticado desde o tempo dos apóstolos.
No livro dos Atos dos Apóstolos podemos ler:
"Anunciaram-lhe a palavra de Deus, a ele e a todos os que estavam em sua casa. Então, naquela mesma hora da noite, ele cuidou deles e lavou-lhes as chagas. Imediatamente foi batizado, ele e toda a sua família." (At 16:32,33)
Em outro trecho, lemos:
"Foi batizada juntamente com a sua família e fez-nos este pedido: Se julgais que tenho fé no Senhor, entrai em minha casa e ficai comigo." (At 16:15)
"Ele e toda sua família"! "Juntamente com a sua família"! Estes e outros trechos indicam exatamente que a prática era de batizar TODOS os componentes da família: marido, esposa e filhos (bebês ou não). Até mesmo os escravos e outros agregados. Porém, segundo o blogueiro, tudo isto se devia a um "mito de salvação", criado já na Igreja dos primeiros cristãos! Talvez ele pudesse indicar as fontes da pesquisa histórica que lhe deu a segurança para fazer tal afirmação. Duvido que ele as encontre...
Má-fé?Mas ele continua... Só que agora ele cai na tentação da pura má-fé, da pura desinformação, da cruel difamação. Eis o que o nosso amigo escreve:
"(...) Acontece que levando a extremos, até os fetos tem alma e no caso por exemplo de risco de vida para a mãe, a igreja prefere salvar o feto e deixá-la morrer, pois esta tem já sua alma salva e o feto não. Enquanto escrevo, penso no absurdo que isso representa mas quem disse isso ainda recentemente foi o falecido João Paulo II na sua encíclica Evangelium Vitae."
Apenas para ficar bem claro: o Papa João Paulo II JAMAIS DISSE TAL ABSURDO! Muito menos na fantástica Encíclica Evangelium Vitae. É de uma desonestidade podre escrever tal absurdo e colocá-lo na boca de um homem justo e já falecido. Das duas, uma: ou o blogueiro não entende o que ele lê e devia, então, ter mais cuidado com o que escreve, ou ele simplesmente escreve com má-fé mesmo.
Se ele simplesmente repetiu coisa que ouviu ou leu em fonte obscura, isto apenas prova o meu ponto: tem gente que pensa que opinar é simplesmente igual a escolher um lado e ficar atirando contra o "inimigo". Quem vai por este caminho, corre o risco de escrever besteiras do tamanho da que escreveu este blogueiro.
Obviedades... Logo depois o blogueiro adentra no terreno dogmático. Do alto de sua cátreda, de sua sabedoria, ele, encadeando pensamentos à sua maneira, manda esta:
"(...) O mais interessante é que se fôssemos seguir todos os dogmas que estão na bíblia por exemplo, teríamos que rever todo o mundo civilizado e renunciar a 90 por cento das coisas que fazemos. Por sorte, a maioria não mais convém a ninguém. No capitulo 38 do Gênesis, quando se conta a historia de Onã que derramava o sêmen por terra, talvez alguém poderá deduzir que o sêmen contém células vivas e portanto deveríamos criminalizar também a masturbação.(...)"
Quais são os "90 por cento das coisas que fazemos"? Poderia citar apenas algumas? Ah, sim, ele cita uma delas! Cita exatamente a passagem de Onã! Só que, no seu afã de atacar seus moinhos-de-vento, o blogueiro diz que "talvez alguém poderá deduzir que o sêmen contém células vivas"!!!! Ah, a tentação das obviedades... Que o sêmen contém células vivas é uma verdade evidente, a não ser que o homem no caso padeça de alguma doença. Mas ninguém acredita que o espermatozóide por si só é um ser humano, daí que não há que se falar em "criminalização da masturbação". Só mesmo uma mente confusa para trazer um exemplo tão pífio e mascará-lo como pensamento profundo...
Contos de Fadas do aborto no Primeiro MundoO blogueiro começa, então, a fazer comparações esdrúxulas, denunciando o absurdo que é aceitarmos o consumo de álcool e de fumo e nos escandalizarmos com o aborto. Aliás, ele advoga um fatalismo meio bobo: "Simplesmente a vida o levou a fumar e nem todos tem a oportunidade de deixar o vício. Isso não o faz criminoso." A vida o levou a fumar? Ora, francamente...
O blogueiro está na Itália e acha a lei abortista daquele país muito boa. Ele acredita mesmo quando escreve, citando a Lei italiana, que a mulher que decide abortar apenas caso "acuse circunstâncias pelas quais o prosseguimento da gravidez, o parto ou a maternidade comportariam um sério perigo a sua saúde física, psíquica, em relação ao seu estado de saúde ou às suas condições econômicas, ou sociais ou familiares, ou a circunstâncias na qual se deu a concepção, ou a previsões de anomalias ou malformações do concebido”. Isto nos noventa primeiros dias de gravidez. Depois, segundo ainda nosso amigo, "somente para casos de grave risco a mãe e/ou malformações acertadas". Tantas palavras para dizer o seguinte: QUANDO QUISER ABORTAR, MINHA SENHORA, É SÓ DIZER!
Ele acredita mesmo que "a mulher que decide fazer um aborto a partir de uma ou mais causas elencadas acima, recebe uma enorme assistência seja clínica que psicológica e passa pela avaliação de muitos profissionais que inclusive em um primeiro momento tem o dever de fazer todo o possível para evitar um aborto leviano."
Muitos profissionais? Duvido... Além do mais, se uma mulher quiser mesmo abortar, vamos ficar aqui achando que ela vai falar com "muitos profissionais" para fazer o aborto? Se assim fosse mesmo, teríamos um crescimento de um mercado-negro de clínicas de aborto estilo "fast-food": pagou, aborta e vai embora, tudo em 1 hora, no máximo.
O blogueiro vive em um eterno conto de fadas:
"Aborto é algo terrível e comporta uma decisão importantíssima. Ninguém o faz como meio de controle dos nascimentos pois é uma medida de exceção. Aprovada a discriminalização do aborto, a luta deve ser no sentido de aumentar a consciência e assistência a uma maternidade responsável. Difundir métodos anticoncepcionais e alargar o acesso a assistência médica."
Aqui está um ponto que merece muita reflexão. A luta para aumentar a conscientização de todos é para ser lutada a todo tempo, em todos os lugares. Não é para ficar esperando a descriminalização do aborto para o início desta luta. Acaso uma "medida de exceção" torna-se lícita apenas porque a mesma é uma exceção? Claro está que não.
Apenas um confuso...Mas o triste mesmo, para nós que somos pró-vida, é ler isto que o blogueiro pensa que os que são contra o aborto "(...) considera a vida de uma mulher menos importante que a de um ovo fecundado (...)". Tremenda bola fora escrever tal coisa... Os pró-vida sabem que a partir da concepção estamos falando de 2 pessoas: mãe e filho. Se o blogueiro não acha que o fruto da concepção seja um ser humano, talvez ele possa dizer em qual momento mágico o "ovo fecundado" torna-se humano. Talvez ele pense que o produto da concepção só é humano quando a mãe assim o pensa. Desta forma, cairemos no abismo de ficarmos condicionando nossa humanidade aos desejos de outros. Desnecessário explicar o quanto isto é bizarro.
Não satisfeito, o blogueiro escreve:
"(...) obriga familias inteiras a empenho de anos no tratamento de pessoas malformadas."
É bem próprio da mentalidade deste mundo hedonista sempre taxar de maléfico tudo o que sai de seus padrões incansável busca pelo prazer. Parece que no mundo ideal do blogueiro as pessoas todas serão sem defeitos, sem doenças, sem nada que as atrapalhe em suas buscas vazias. É como se se afirmasse que se um filho vai "atrapalhar" minha vida, é melhor que eu o aborte. Lamentável um tal pensamento.
No final das contas, vemos que o blogueiro vive numa baita confusão quando o assunto é aborto.
Post scriptumÉ de se imaginar que a mensagem de nosso amigo blogueiro, tão cheia de erros, desinformação e vários preconceitos, não seja levada a sério. Mas que nada... Olhando os comentários feitos após a mensagem ficamos meio que estarrecidos que tantos simplesmente comprem o peixe podre que ele está vendendo.
Um comentarista escreve: "Que post profundo!!! Parabens!!! E achei incrivel esta lei italiana!"
Outro: "(...) texto maravilhoso."
Um outro: "Interessantíssimo o tema abordado neste post e vc o fez c/muita propriedade."
Um outro é para lá de elogioso: "(...) como sempre você ARRASOU! seu post está informativo, inteligente, BRILHANTE!!!"
Mais um que fez fila: "(...) estão de parabéns. (...) pelo texto coeso e com informações preci(o)sas."
Que os comentaristas achem por bem elogiar gratuitamente -- na minha terra isto tem outro nome -- o autor , isto é lá com eles... Mas dizer que a mensagem é um "texto coeso"? Que a mensagem é "informativa, inteligente, brilhante"?? Que o post é "profundo"? Só se for coeso na incoerência... A desinfomação grassa solta na mensagem... O autor demonstra ter a arrogância dos que se acham profundos conhecedores de assuntos dos quais nem mesmo arranham a superfície. Mas nada disto parece importar para sua patota. Para eles o blogueiro pode escrever qualquer coisa, qualquer besteira, que logo isto passa a ser classificado como "profundo".