E não fizemos nada! |
Há exatos 9 anos, morria o menino João Hélio Fernandes Vieites, de apenas 6 anos, no subúrbio do Rio de Janeiro. Preso pelo cinto de segurança, ele foi arrastado pelo lado de fora do carro que havia sido roubado de sua mãe por quatro bandidos no subúrbio do Rio de Janeiro. Sua mãe e sua irmã mais velha conseguiram sair do carro, mas João Hélio não conseguiu se desvencilhar do cinto que o prendia ao automóvel. Seu corpinho foi destroçado durante o trajeto feito pelos criminosos, que foram presos poucas horas depois do bárbaro crime.
Já abordei este caso anteriormente no blog e, mesmo após tantos anos, continua sendo difícil tratar disto. Imaginar o pequeno João Hélio, na inocência de seus 6 aninhos, tendo que passar por tamanho sofrimento é coisa que escapa a qualquer um que sequer tente imaginar o absurdo da situação. Assim como é impossível imaginar a dor dos pais do menino, que hoje estaria em plena adolescência se tivesse permanecido entre nós.
À época de sua morte, houve uma justa e esperada indignação, mas, como sempre acontece, não foram poucos os que vieram a público pedir "calma" e "civilidade". Calma e civilidade para lidar com a morte de uma criança que foi arrastada e despedaçada na frente de sua mãe e irmã? O tipo de morte que o menino teve não é aceita nem que seja dada aos animais. Imagine-se o que ocorreria se um pervertido amarrasse um cachorro em seu carro e o saísse arrastando pelas ruas de uma de nossas grandes cidades. Como reagiríamos? Por muito menos gente já perdeu emprego, reputação, etc.
"Ah! Mas os criminosos foram pegos!" Sim, foram. E o que fizemos para evitar que situações semelhantes voltem a ocorrer? Ainda temos de lidar com menores cometendo crimes impunemente, com o sucateamento e desmoralização de nossas polícias, com a incapacidade de nossa população de se defender minimamente.
Um dos assassinos de João Hélio, Ezequiel Toledo da Silva, era menor de idade quando cometeu o crime. Cumpriu pena sócio-educativa de 3 anos e foi solto. Houve uma iniciativa que procurava colocá-lo em um programa de proteção a testemunhas, pois temia-se por sua integridade física. Houve até mesmo notícia de que ele iria morar no exterior, levado por uma ONG, o que parece não ter acontecido devido à indignação popular diante desta informação. A última notícia que se tem é que ele voltou a cometer crimes. Alguém se surpreende com isto?
Quando da morte de João Hélio, houve até sociólogo que chamou de "reposta bárbara" o fato de que muitos desejavam a redução da maioridade penal. Houve políticos que não aceitavam sequer discutir o assunto, pois, segundo eles, estávamos ainda sob efeito do impacto emocional do horrível crime que havia sido cometido. Mas e agora? Passados nove anos do acontecido, o que podemos dizer que fizemos de concreto para que mais crianças não corram o risco de morrer como João Hélio? Temos agora por volta de 60.000 homicídios por ano., e muitos destes são cometidos por menores de idade que no máximo cumprirão penas de recolhimento de 3 anos em instituições de segurança baixíssima, onde a única coisa que aprenderão será como cometer mais crimes.
É assim que o Brasil trata suas crianças. Elas nunca são prioridade. Não merecem educação de qualidade; nossas escolas públicas tornaram-se, fora as pouquíssimas exceções, depósitos de crianças, que de lá sairão em sua maioria analfabetas funcionais. Não merecem investimentos em saneamento, o que diminuiria drasticamente o número de crianças que ainda morrem por doenças que podem ser perfeitamente controladas.
Mas o que elas parecem merecer, na cabeça de certos políticos, de jornalistas com agenda, de militantes e de todos que lhes dão apoio é a morte. Parece que é melhor que elas nem mesmo venham à luz, que sequer existam, que pereçam ainda no ventre de suas mães. O mesmo Estado que lhes nega educação, que lhes nega condições básicas de saúde, que lhes nega proteção contra crimes tais como foi vítima o pobre João Hélio, é este mesmo Estado que busca que o aborto seja liberado.
Quando foi que nossas crianças se tornaram o problema? Nosso problema, na verdade, é a incompetência, é a corrupção, é a opção por ideologias comprovadamente assassinas. As más condições deixadas às nossas crianças são a herança de tudo o que criamos por aqui. E serão elas que terão de pagar por nossos erros?
E agora, diante da calamidade da Saúde Pública e da incompetência para pesquisar vacinas ou controlar a proliferação de mosquitos, a primeira resposta dos bem-pensantes é liberar o aborto? Mais uma vez serão nossas crianças que irão pagar por nossa estúpida incompetência? E isto com o aplauso de tantos que ainda têm a petulância de se dizerem preocupados com a saúde da população?
O pequeno João Hélio morreu faltando poucos dias para o Carnaval de 2007. Em 2011, escrevi isto:
"Nossa sociedade, principalmente a sociedade carioca com seus dândis politicamente corretos metidos a cosmopolitas e antenados com o progressismo mais retrógrado, há 4 anos achou por bem homenagear o menino recém falecido com uma faixa durante desfile de uma escola de samba; outra escola chegou ao máximo da benevolência ao fazer sua comissão de frente mostrar seu nome em uma coreografia.
Lindo, não? A um menino despedaçado por frios criminosos, nada como homenagear seu nome em meio a uma festa com muita gente nua, regada a muito chope, com todo mundo afetando alegria e deixando de lado qualquer limite moral. Isto, na minha opinião de não-sociólogo, é que é barbaridade!"
O Brasil não é apenas um país que não é sério. O Brasil é um país que tornou-se profundamente sem vergonha, pois é exatamente isto o que se pode dizer de um país que trata suas crianças não como o futuro a ser preservado, mas como o problema a ser eliminado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário