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segunda-feira, março 01, 2010

Platitudes energúmenas de um titã tupiniquim


Sorte eu jamais ter sido fã do grupo Titãs, o que me poupa de sentir algum sentimento de contrariedade ao falar sobre o texto ridículo de Tony Bellotto em seu blog, no site da revista Veja.

Aqui, uma breve interrupção. A revista Veja -- e sua página online -- tornou-se, sem dúvida alguma, a plataforma preferida do pensamento abortista no Brasil. Até mesmo Reinaldo Azevedo, católico, fica tão cheio de dedos e confuso quando aborda o assunto, que seu discurso se presta mais a ajudar o abortismo que a lutar contra esta prática hedionda.

Nunca havia lido nada do titânico Bellotto. Sorte minha. Eu já o havia ouvido, creio, em algum momento de minha vida. Digo creio, pois é difícil saber quem toca o quê entre os 487 componentes do grupo Titãs.

Para meu azar, deparei-me com texto no blog de Bellotto sobre aborto. Sim, azar o meu, pois, mesmo para um blog, a quantidade de clichês por parágrafo do pensador-pop é de proporções absurdamente grandes. Logo no início podemos ler algo assim:
"Falaremos de - tchan-tchan-tchan-tchan! -: Espanha! Calma, infelizmente não dissertarei sobre castanholas, paellas, touradas ou Penélope Cruz."
Mas se o estilo vai pobre, pensava eu, talvez o conteúdo se salvasse. Nada... O marido de Malu Mader (é esta sua profissão, não é?) resolveu discorrer sobre o aborto na Espanha, que recentemente em definitivo foi aprovado, além de ter ampliadas suas possibilidades, exatamente como é a agenda de qualquer governo socialista.

Mas Bellotto, o titã do pensamento ocidental, ainda anunciou que faria a relação entre aborto e religião na sociedade espanhola. E isto em 6 parágrafos! E isto tendo como fonte apenas uma notícia de jornal! E que ele leu naquela manhã!
Está lá, li hoje de manhã na Folha de São Paulo: o Senado da Espanha aprovou em definitivo lei que libera o aborto até a 14ª semana de gestação e permite a adolescentes entre 16 e 18 anos interromper a gravidez mesmo sem o consentimento dos pais. Façamos uma reflexão. A Espanha é um estado moderno, democrático, cuja maioria absoluta da população é católica, certo? Os senadores espanhóis, ao que me consta, não são monstros eleitos para aprovar leis que permitam matanças generalizadas (com exceção dos touros, talvez), correto?
Para o pensador Bellotto, basta que um país tenha o título de moderno e democrático, e, claro, que seus senadores não sejam monstros (alguém já viu um senador monstro?), para que qualquer lei ganhe o status de justa. E depois ainda dizem que o rock é um ritmo musical pautado pelo inconformismo. Um erro de proporções titânicas, como podemos ver...

Ah, mas o maridão de Malu Mader parece não ver com bons olhos a "matança" de touros no país conhecido por suas touradas; mas o engraçado mesmo é que ele só tem olhos para a matança de bovinos. Quando o assunto é ser humano, Bellotto nem mesmo reconhece como matança os mais de 100.000 abortos feitos anualmente na Espanha.

Alguém tem idéia de quantos touros são mortos em touradas por ano na Espanha? Duvido muito que chegue a 1% do número de abortos feitos, mas o bovinófilo titã talvez verta lágrimas pelos touros, que volta-e-meia até conseguem uma vingançazinha, mas os não-nascidos abortados não têm chifres para se defender e nem mesmo gente descolada para blogar a seu favor.

Tony Bellotto aplaudiu a decisão do senado espanhol de não requerer autorização dos pais para as adolescentes de 16 a 18 anos que quiserem abortar. Talvez ele desconheça o caso de meninas vítimas de abuso que são obrigadas por seus "namorados" a abortar. A não obrigação ao consentimento dos pais é uma dádiva para estes namorados/abusadores. Bellotto, talvez devido às platitudes que ele chama de reflexões, acha bem próprio de uma sociedade "moderna e democrática" que um instrumento que contribui exatamente para a opressão feminina seja visto como coisa desejável.

Bellotto sabe das coisas! A última coisa que uma menina de 16 anos precisa quando passa por uma crise pessoal, ou quando seu "namorado" -- muitas vezes um homem já casado -- lhe pressiona a abortar, a última coisa que uma menina dessas precisa é conversar com os pais, não é? Talvez lhe baste apenas ouvir uma musiquinhas dos Titãs em alto som ou, quem sabe?, ler alguns dos livros profundos de Tony Bellotto.

Mas o grande argumento do roqueiro/escritor/marido é este:
"O que a Espanha acaba de fazer – como muitos outros países já fizeram – foi reconhecer o direito das mulheres à assistência médica e psicológica em casos de gravidez interrompida. É diferente de dizer: aprovamos o aborto porque somos sádicos, desalmados, insanos, cruéis e antirreligiosos. É muito diferente, não?
Na verdade, o que a Espanha faz há muito tempo, desde 1985, é que uma mãe, ou um casal, ou uma mulher pressionada pelo companheiro, ou por outras situações bem menos sérias, possa decidir-se pelo assassinato de seu filho ainda em seu ventre.

Que tal chamar as coisas pelo que elas realmente são? Não é melhor assim? Um aborto, seja lá o que se escolha para tentar justiticar este ato hediondo, é sempre a morte direta de um ser humano. O que não pode é dar papo a gente como Tony Bellotto, que expertamente quer vir com o discurso pré-fabricado por militantes abortistas, que usa termos como "gravidez interrompida", mas que se recusa a falar da vida que foi ceifada, muitas vezes por motivos tão prosaicos como não poder perder o semestre letivo ou a promoção no emprego.

O roqueiro titânico usa de ironia chinfrim para recusar o rótulo que, segundo ele, poderá ser colocado em quem, como ele, aplaude os governos "modernos e democráticos" como o da Espanha. Afinal, ele apenas quer assistência médica e psicológica para as mulheres que abortam seus filhos. Afinal, ele não é, segundo sua ironia, nenhum "sádico, desalmado, insano, cruel, antirreligioso".

Não, ele não é nada disto... Ele é apenas um cara que em 6 parágrafos tem a pretensão de ensinar sobre aborto e sua ligação com a religião na sociedade espanhola, que é capaz de se insurgir contra a matança de touros, que é solidário com mulheres necessitadas, etc, mas que, curiosamente, passa todo o texto sem uma vez sequer lembrar que o que está no ventre das mães é já uma vida humana.

Crueldade isto? Que nada... É a bondade mais pura que existe!

Pois é, o pensador Bellotto só vê a realidade que lhe interessa. Entre um mero animal e um ser humano, ele não tem dúvidas: a matança só acontece entre os animais irracionais. Os seres humanos que morrem -- mais de 100.000 ao ano só na Espanha e por volta de 46.000.000 no mundo --, para estes o roqueiro não acha espaço em seu blog.

Mas o filósofo/guitarrista, como havia prometido, enfia religião no meio do seu texto. Enfia é a palavra correta mesmo, pois sem qualquer ligação com o resto de seu já confuso texto, o blogueiro joga estas palavras:
"Ok, falei da Espanha e do aborto. Onde entra a religião nessa crônica? É que toda vez que falo de estado laico sempre me aparece um engraçadinho - um, não, dezenas – vociferando contra minhas convicções o mais pueril e estúpido dos argumentos: “Quer dizer, Tony, que se levarmos em conta as suas propostas, teremos de implodir o Cristo Redentor?”."
Onde foi que Bellotto falou de estado laico? Só ele sabe... Talvez quem o leia com afinco tenha já criado uma forma toda especial de entendimento do que ele escreve, uma forma em que haja um sentido além das palavras. A meta-linguagem de Bellotto deixou no passado coisas como sujeito oculto; para ele, um homem à frente de seu tempo, a coisa já vai mais longe e já está no nível de idéia oculta ou dos argumentos ocultos. Mas isto é coisa só para quem já ouviu todas as suas músicas e comprou todos os seus livros, coisa para iniciados mesmo.

Ou seja, do aborto e da Espanha, que ele analisou com a firmeza de um prego na areia, e depois de discorrer sobre o estado laico, Bellotto parte para criticar a Arquidiocese do Rio de Janeiro, que está processando, segundo notícias, a produtora do filme "2012" por causa da utilização de imagens da estátua do Cristo Redentor:
"É que li no jornal – além da notícia da aprovação do aborto na Espanha – uma outra notícia interessante: a de que a Arquidiocese do Rio quer processar a produtora de cinema Columbia por usar sem autorização a imagem do Cristo Redentor despencando do Corcovado no filme 2012. Não é piada, juro. A Arquidiocese do Rio não tem nada melhor pra fazer? Dá o que pensar."
Olha... Pode até ser que a Arquidiocese possa ter coisa melhor para fazer, mas não é Tony Bellotto que julgará isto. Qual é mesmo a relação de Bellotto com a Arquidiocese ou até mesmo com a Igreja? Aliás, o roqueiro por acaso sabe de algo sobre o trabalho que a Arquidiocese faz? Pois é... O que a Arquidiocese fez ou deixa de fazer tem nada a ver com Bellotto. Quer dar pitaco? É seu direito... Mas que não se esqueça que ele também deixará a porta aberta para ser criticado também.

Pode ser que Bellotto tenha que ficar caladinho quando alguém lembrar que ele e sua bandinha compuseram e tocaram uma "música" chamada "Isso para mim é pergume", que, de tão nojenta, de tão baixa, de tão asquerosa, eu me recuso a sequer colocar um link para este troço.

No vídeo que vi, Bellotto era o cara que mandava ver na guitarra, fazendo caras e bocas, quase que em êxtase diante da obra coletiva de seu grupo.
É o então extático Bellotto que agora sobe nas tamancas para apontar o dedo para a Arquidiocese, da qual ele não conhece o trabalho, para mandar fazer algo que seja relevante.

Esquece-se ele que muitos mais dedos podem lhe ser apontados para perguntar se ele não tem coisa melhor a fazer que empregar sua guitarra para tocar um tipo de coisa que nem mesmo música devia ser chamado, tão baixo é seu nível. E é este pensador que vai ensinar algo a alguém? Quanta modéstia!

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