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terça-feira, fevereiro 05, 2008

Quo vadis?


Em 20 de novembro de 1997, praticamente há 10 anos, a CNBB enviou aos deputados federais uma carta cujo conteúdo é o seguinte (original aqui):

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CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL

Roma, 20 de Novembro de 1997

Excelentíssimo Sr. Deputado Federal,

Daqui, de Roma, participando do Sínodo dos Bispos para a América, fazemos um insistente apelo a V. Ex.cia, para que vote a favor do requerimento do Deputado Salvador Zimbaldi que pede a apreciação, pelo Plenário da Câmara Federal, do PL 20/91, da autoria dos Deputado Eduardo Jorge e Sandra Starling, que obriga o sistema público de saúde a fazer o aborto nos casos de estupro e de gravidez com riso de vida para a gestante. Obviamente, apelamos que, depois, no Plenário vote contra o PL 20/91. A Igreja no Brasil tem se manifestado solidária à mulher tão sofrida nestas duas dolorosas situações, de que trata o citado projeto de lei. Contudo, jamais poderá concordar com o aborto direto e provocado, o qual é um delito grave contra a vida humana, pois representa a morte de um ser humano inocente e indefeso.

A população católica brasileira, que constitui a imensa maioria de nosso povo, está profundamente agradecida pela recente visita do Papa ao Brasil, ocasião em que o Santo Padre apoiou a família e renovou a condenação do aborto. Assim, igualmente nós, Bispos, reafirmamos com vigor nossa posição em favor da vida humana, desde sua concepção até seu desfecho natural. Para que o povo católico possa, em consciência, continuar votando em V. Ex.cia., ele espera seu voto contra o PL 20/91 e outros projetos de lei que atentam contra a família e a vida humana. Mas, em primeiro lugar, é Deus quem espera isso de V. Excelência.

Atenciosamente,

Cardeal D. Lucas Moreira Neves - Presidente da CNBB

Cardeal D. Eugênio de Araújo Sales - Arcebispo do Rio de Janeiro

Cardeal D. Paulo Evaristo Arns - Arcebispo de São Paulo

Cardeal D. Aloísio Lorscheider - Arcebispo de Aparecida

Cardeal . José Freire Falcão - Arcebispo de Brasília

D. Serafim Fernandes de Araújo - Arcebispo de Belo Horizonte

D. Pedro Marchetti Fedalto - Arcebispo de Curitiba

D. Luciano Mendes da Almeida - Arcebispo de Mariana

D. Marcelo Pinto Cavalheira - Arcebispo de Paraíba

D. Cláudio Hummes - Arcebispo de Fortaleza

D. Vitório Pavanello - Arcebispo de Campo Grande

D. Jayme Henrique Chemello - Vice-Presidente da CNBB

D. Raymundo Damasceno Assis - Secretário Geral da CNBB

D. Vital Wilderink - Bispo de Itaguaí

D. Fernando Antônio Figueiredo - Bispo de Santo Amaro

D. D. Geraldo Lyrio Rocha - Bispo de Colatina

D. Luiz Demétrio Valentini - Bispo de Jales

D. Erwin Krautler - Bispo de Xingú

D. Irineu Danelon - Bispo de Lins

D. Angélico Sândalo Bernardino - Bispo Auxiliar de São Paulo

D. Antônio Celso de Queiroz - Bispo Auxiliar de São Paulo

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O texto é claríssimo. A posição da Igreja é ali explicitada de forma perfeita. Não há espaço para dúvidas quanto ao que a Igreja ensina sobre o mal do aborto. Não há excessões, a vida humana é respeitada em qualquer situação.

Este ensinamento é o ensinamento de sempre da Igreja. No século I, na Didaqué, que é reconhecido como o primeiro Catecismo dos cristãos, estava escrito:

"Não matarás criança por aborto e nem criança já nascida."

Novamente, texto claríssimo.

Entre o texto da Didaqué, datado entre 90-100, e a carta enviada pela CNBB em 1997, passaram-se aproximadamente 1900 anos. A mensagem permaneceu a mesma.

Contrastando com esta mensagem perene da Igreja, surpreende-nos o que disse o Bispo de Jales-SP, D. Demétrio Valentini, em entrevista ao jornal "O Estado de São Paulo" sobre uma sua subordinada, que defende a descriminalização do aborto:

“Posições radicais e fechadas em torno de temas como o aborto correm o risco de comprometer a Campanha da Fraternidade, a ser lançada na próxima quarta-feira”

Ao lermos a fala do bispo somos levados a pensar que a imoralidade do aborto é uma questão aberta. Não é, como pode bem ser visto ao lermos tanto um texto cristão do primeiro século quanto uma carta da CNBB a políticos brasileiros no final do século XX. 1900 anos se passaram e a mensagem continua a mesma.

Ou seja, quanto ao aborto, o bispo está certíssimo em sua avaliação: a posição é realmente "radical e fechada". Radical na opção pela vida e fechada a um "humanismo" torto como o da sra. Bernadete Aparecida Ferreira, que busca relativizar a mensagem perene da Igreja.

Mas o que mais causa surpresa é o fato de D. Demétrio Valentini dar uma entrevista em 2008 reclamando de uma posição "radical e fechada" em relação ao aborto, sendo que ele, em 1997, foi um dos que assinaram a carta da CNBB enviada a deputados federais, na qual a radicalidade da opção pela vida estava clara.

Quo vadis, D. Demétrio?

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