Mariana Passaglia, autora do blog "Mãe de Dois", faz uma interessantíssima reflexão sobre a atual condição da mulher que tenta equilibrar-se nos vários papéis de mãe, profissional, mulher, etc.
No começo de sua reflexão, Mariana faz uma síntese, que beira a perfeição, sobre o estrago feito pelo -- assim chamado por ela -- "feminismo comercial":
"Uma mulher nos anos 50 tem a oportunidade de trabalhar fora. Outra consegue estudar numa grande Universidade. Chega a década de 60, período revolucionário regado pelo movimento feminista ilustrado por mulheres queimando seus sutiãs em praça pública. A década de 70 traz a idéia da liberdade para amar, trabalhar, estudar e de repente a mulher dos anos 80 abraça o mundo. O céu é o limite. Momento de lutar pela igualdade entre homens e mulheres. Igualdade? Em respeito, dignidade? Ok. Mas de repente a mulher começou a querer ser igual ao homem. Mas chega a mulher da década de 90. Uma mulher que não se vê mãe tão cedo, que quer fazer mil coisas ao mesmo tempo e que acha que o homem é seu maior inimigo na luta pelo feminismo. Isso porque o feminismo que lutava pela igualdade de direitos agora vê o homem como concorrente. Concorrente no mercado de trabalho e na vida pessoal também. Independência vira moda. A mulher se vangloria de não precisar financeiramente do homem e diz com todo orgulho que não precisa dele pra mais nada. Nem para o amor? Não, diz. O lema é não precisar do outro. Estar com ele somente enquanto for agradável. O problema é que no ano 2000, ela quer fazer tudo igual ao seu algoz numa tentativa frustrada de ser melhor agindo da mesma forma como se isso fosse possível. Não é mais a busca pela liberdade que está em pauta. É um jogo de poder. Escolhe homem e dispensa como um produto fora da validade ou quando o “produto” não satisfez suas expectativas na tentativa de se sentir superior. É o ressentimento de séculos de submissão que veio a cavalo atropelando qualquer feminilidade naturalmente tranquila e co-dependente. Sim, co-dependente. A fêmea que precisa do macho assim como o macho precisa da fêmea. Que fêmea? Como são as fêmeas na natureza? Tem suas próprias necessidades que se casam perfeitamente com as necessidades do macho (apesar de diferentes) juntando os dois numa relação perfeita de co-dependencia na preservação da espécie. Onde está a fêmea humana? As verdadeiras necessidades estão sufocadas em prol da mulher idealizada, aquela que faz tudo igual ao homem. E então esse “feminismo sombra” onde a mulher tenta imitar o homem como um macaquinho de circo que já não sabe mais agir pelo instinto chega a 2010 num beco sem saída. A mulher não sabe mais quem ela é, quais são seus desejos, suas necessidades. Assim como suas avós e tataravós, vive numa prisão sem paredes onde a sociedade lhe diz como deve agir, pensar, o que deve almejar. A mulher da década de 2010 tenta correr atrás do tipo idealizado na década de 80: a mulher-maravilha. Aquela que tem carreira consolidada, é mãe, aparenta ser mais jovem do que é e é independente financeiramente e emocionalmente do homem. E está correndo atrás...do próprio rabo."
E isto é só o começo... Mais à frente a autora continua mostrando as mazelas da condição feminina atual:
"A mulher virou um bem de consumo e pobre ou rica, ela está voltada para fora de seu corpo, insatisfeita, subjugada por ela mesma em primeiro lugar. Morreu de vaidade a nova mulher que prometia emergir; está mais ignorante e menos sensível, mais competitiva e menos corajosa. Tendo comportamento adolescente mesmo depois dos 30 e mesmo depois dos filhos. Não cresce porque não se desenvolve no sentido mais puro de ser mulher. Não conhece a si mesma, não conhece seu corpo, joga pra debaixo do tapete seus próprios sentimentos. Se a dama da sociedade só pensa em plásticas e as realiza, retaliando-se inteira para conseguir mais um up grade nas armas de sedução; as Marias estão pregadas nas novelas, economizam para comprar creme de aveia barato, se ressentem com o descascado do esmalte de quinta categoria, sonham em não ser elas mesmas. O que sobrou do feminismo além de um certo direito a um empreguinho, uma tripla jornada e um total desentendimento das relações humanas afetuosas, foi depurado pela peruíce generalizada das formadoras de opinião, elas próprias preocupadas com creminhos e soluções milagrosas pra aparentarem ter 20 anos a menos e arrancar qualquer evidência de que já tiveram filhos."
E muitos outros trecho excelentes poderiam ser destacados, mas o que vale mesmo é lê-lo na íntegra. Recomendo muito: "O verdadeiro feminismo".
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