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segunda-feira, fevereiro 16, 2015

Desordem moral, a raiz de nossos males

No dia 7 de fevereiro de 2007, há 8 anos portanto, falecia de forma absurdamente cruel o menino João Hélio, de 6 anos de idade, nas violentas ruas da cidade do Rio de Janeiro. Alguém se lembra? Talvez poucos, bem poucos mesmo.

Um menino arrastado e despedaçado ao ser levado pendurado em um carro com criminosos em fuga não bastou para interromper o carnaval carioca, que aconteceria duas semanas depois. Em uma postagem de 2011, quando dos 4 anos da morte de João Hélio, assim escrevi:
"Nossa sociedade, principalmente a sociedade carioca com seus dândis politicamente corretos metidos a cosmopolitas e antenados com o progressismo mais retrógrado, há 4 anos achou por bem homenagear o menino recém falecido com uma faixa durante desfile de uma escola de samba; outra escola chegou ao máximo da benevolência ao fazer sua comissão de frente mostrar seu nome em uma coreografia.

Lindo, não? A um menino despedaçado por frios criminosos, nada como homenagear seu nome em meio a uma festa com muita gente nua, regada a muito chope, com todo mundo afetando alegria e deixando de lado qualquer limite moral. (...)"
Pelo jeito o menino João Hélio virou estatística, pois nada da indignação causada por aquela morte crudelíssima parece ter restado.

Onde, aliás, ficou a indignação da sociedade brasileira quando no dia 3 de janeiro do ano passado a menina Ana Clara, também de 6 anos, teve 95% de seu corpo queimado em ato de terror contra o ônibus no qual ela viajava com sua mãe. Este ato foi cometido por menores de idade a mando de encarcerados do sistema prisional do Maranhão. A menina veio a falecer 3 dias após o ataque.

Houve alguma indignação profunda em nossa sociedade? Algo foi feito para que casos assim possam ser minimizados ou não voltem mais a ocorrer? Nada.

E nossa sociedade vai, ano após ano, perdendo sua sensibilidade... Na madrugada deste Domingo, na cidade de Jaguarão, no RS, uma adolescente de 16 anos morreu atropelada por um caminhão de Trio Elétrico. Não entro no mérito do que aconteceu, principalmente por respeito aos familiares, mas o que aconteceu após o acidente é de estarrecer, conforme relatado pela página da revista Veja:
"Ainda de madrugada, a prefeitura da cidade suspendeu os festejos. Entretanto, já na tarde deste domingo a programação teve autorização para ser retomada. Durante os eventos, haverá um minuto de silêncio em homenagem à jovem."
Certo. Uma jovem morre na "festa" e a reação é retomar tudo de onde parou. Que tal desviar um trio elétrico para passar na porta do cemitério também? Que tal uma batucada no velório? A canalhice do carnaval carioca e suas "homenagens" ao menino João Hélio parece que vem fazendo escola Brasil afora.

Melhor, bem melhor, fez o bloco cujo caminhão de Trio Elétrico atropelou e matou a jovem gaúcha. Em nota oficial, o bloco declarou:
"Apesar de a menina não ser integrante do trio elétrico Marajás do Trago, estamos extremamente abalados e não temos condições psicológicas de continuar com os desfiles no Carnaval de 2015."
E quem teria condições? Um bloco de carnaval -- "Marajás do Trago"! -- mostra mais tutano moral que a administração pública de uma cidade. Que tempos!

E é bom que se diga que Jaguarão é uma cidade de menos de 30.000 habitantes. Ou seja, nem mesmo a impessoalidade e o egoísmo típico das grandes cidades podem servir de desculpa. E é claro que o problema não é Jaguarão, o problema é o Brasil, é nossa desordem moral, esta força que está nos corroendo por dentro e que nos impele ao que é errado, que nos cega e impede que vejamos o que é correto. 

Um dos exemplos desta desordem é um vídeo que apareceu esta semana nas redes sociais. Nele era mostrado o resultado de um acidente em uma estrada no Brasil e podia-se ver pessoas saqueando a carga do caminhão que havia sofrido o maior dano. Conforme o veículo da pessoa que estava filmando a cena ia ultrapassando o caminhão que estava sendo saqueado, podia-se ver o frenesi dos saqueadores em tomar para si a maior parte possível da carga. A grande surpresa é que quando é filmada a cabine do caminhão que estava semi-destruída podia-se ver o motorista preso ás ferragens, provavelmente morto, ou desacordado e precisando de ajuda. E ninguém o ajudava, caso necessitasse, ou ninguém mostrava o mínimo de respeito por uma pessoa que havia acabado de falecer. Nada. A única coisa que importava era o roubo, o crime, o levar vantagem tão típico nosso. Foi coisa de embrulhar o estômago ver homens portando-se de forma pior que animais.

É esta desordem que devemos combater, pois é ela a raiz de inúmeros males; males que vêm deixando um rastro de crianças mortas de forma cruel, tais como João Hélio, Ana Clara e inúmeras outras; males que levam as mulheres a encarar o aborto como se solução fosse para algo. Nesta desordem moral quem mais sofre são os pequeninos, são os frágeis, são os necessitados; estejam eles no ventre de suas mães, no banco de trás de nossos carros, ao lado de sua mãe em um ônibus ou até mesmo na cabine de um caminhão de carga. Esta desordem moral nos atingirá a todos.



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