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quinta-feira, agosto 27, 2009

Mais absurdos sobre o caso de Alagoinha


A excelente atuação de D. José Cardoso Sobrinho no caso da menina de Alagoinha deu oportunidade de ouro a uma turma que fermenta um ódio infundado pela Igreja aproveitasse os holofotes.

Ao indisfarçado autoritarismo na linguagem de muitos segue-se também a ignorância dos fatos do caso e mesmo em relação aos preceitos católicos. Enfim, a tônica do discurso de muitos é uma mistura de arrogância, de desconhecimento, de empáfia, etc.

Um exemplo puríssimo pode ser lido abaixo, em vermelho. Em azul seguem minhas respostas aos absurdos que o blogueiro tenta passar como argumentação (original aqui).

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Quem frequenta este blog sabe, mui bien, o que eu penso acerca do aborto (e se não sabe, clique aqui pra descobrir).

No resumo da ópera, vale sintetizar que eu sou contra a maior descriminalização da prática. O termo "maior" não está sobrando: com ele eu quero dizer que sim, sou a favor dos casos que a lei já autoriza a prática, e não, não sou a favor de que outros casos diversos sejam permitidos, como a simples vontade da gestante.


### Para quem quer passar uma idéia de que já refletiu seriamente sobre a questão do aborto, o blogueiro falha feio. E falha porque porque desconhece que a lei brasileira não autoriza a prática do aborto em caso algum. O que há, na verdade, são casos em que a punição devida ao crime não é aplicada, o que é bem diferente de se dizer que o procedimento seja autorizado. ###

É fascista? É radical? Penso que não, já que todos tivemos o exemplo de radicalismo nesses dias, quando o arcebispo de Olinda, Dom José Cardoso Sobrinho, "comunicou" à família de uma menina de 9 anos grávida de gêmeos vindos de um estupro e aos médicos envolvidos no aborto legal a que foi submetida que estavam excomungados da vida na Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana.

### Mais erros... A única coisa que D. José fez foi tornar pública a excomunhão tantos dos membros da equipe médica diretamente envolvidos no ato do aborto quanto quem autorizou o aborto. E é sempre oportuno lembrar que D. José não utilizou de sua autoridade episcopal para excomungar ninguém, dado que a excomunhão é automática no caso de aborto. À menina-mãe não cabe punição alguma, pois, devido à sua pouca idade, ela não passível de sanções pelo Código de Direito Canônico. ###

Para quem não sabe, o Catecismo da Igreja Católica (uma espécie de manual do catolicismo) assim diz da excomunhão:

"Alguns pecados particularmente graves são passíveis de excomunhão, a pena eclesiástica mais severa, que impede a recepção dos sacramentos e o exercício de certos atos eclesiais."


Um dos argumentos mais repetidos pelo arcebispo sobre seu polêmico manifesto foi que "Se a lei dos homens é contrária à lei de Deus, então ela não vale nada e deve ser ignorada." Com isso, Dom José quer dizer que, não interessa se o aborto é legal judicialmente. É pegado gravissíssimo, cuja pena é excomunhão (abandonar a religião também é, o que faz de mim um excomungado).


### Apenas antes de se partir para a "argumentação" do blogueiro, é bom que se diga que ele está certo mesmo: se ele apostatou, está excomungado. É triste que ele não se dê conta de seu erro, assim como é triste que ele dê declarações jocosas sobre isto. ###


Pois bem, então vamos por partes: primeiro, alguém precisa avisar ao arcebispo que, desde Pedro II, salvo engano, o Brasil é um país laico. Isso quer dizer que aqui, na República Federativa do Brasil a lei de Deus é apenas uma curiosidade, pois este país não professa uma religião. Outra coisa, todos sabem que a gravidez da menininha, estuprada continuamente pelo padrasto era de alto risco, podendo tirar-lhe a vida. Porém, segundo o bispo, a lei de Deus não permite que se diga que os fins justificam os meios e a matemática não bate: faz mais sentido perder a vida da menina do que dos dois filhos que ela trazia no ventre.

### Aqui o blogueiro mistura ignorância com distorção dos fatos.

Ignora o rapaz que o fato de o Brasil ser um país laico nada mais é que o Estado não professa oficialmente uma religião. Apenas quer dizer que o Estado não deve favorecer uma religião em relação a outras.


Mas o caso é que faltou o autor do blog explicar a conexão lógica entre a a fala de D. José e o ataque ao Estado laico. O então Arcebispo de Olinda e Recife disse uma verdade que em nada fere a laicidade do Estado Brasileiro, mas que talvez fira um bocado o laicismo do blogueiro e de outros que pensam como ele.


Os católicos, e, assim creio, até mesmo crentes de outras denominações, não têm obrigação alguma em se sujeitar a uma lei que vá frontalmente contra a Lei de Deus, na qual acreditam. E tal lei deve mesmo ser ignorada... O que o blogueiro parece desejar é que os católicos fiquem calados quando vêem um aborto ser cometido no prédio vizinho, tudo devido ao Estado Laico. Isto não seria uma saudável laicidade do estado, seria, sim, um opressor laicismo, e, se ele se sente bem em olhar para o lado quando diante de um aborto, que ao menos deixe aos católicos a liberdade de indignar-se contra isto.


Querer que um católico seja obrigado a baixar a cabeça frente a um mal das proporções do aborto é coisa tão autoritária que até mesmo países em que esta cruel prática é legalizada há a figura da objeção de consciência. Ou seja, isto de querer enfiar goela abaixo dos católicos a aceitação do aborto por conta da laicidade do Estado nada mais é que um arroubo totalitário mascarado.


Sobre a distorção dos fatos, o autor do blog faria bem melhor se explicasse em qual manual médico ou qual pesquisa está escrito que gravidez de risco é equivalente a uma pena de morte. O fato é que o blogueiro comprou um peixe podre que lhe venderam; ele acreditou piamente nas notícias plantadas por ONGs abortistas de que a menina-mãe corria risco de vida. Não só não corria, como esta mentira já foi por demais desmascarada.


E, além do mais, uma gravidez de risco é coisa mais do que comum, e, com o avanço da Medicina, é cada vez menor o índice de mortes em tais casos. Ou seja, é muito difícil que alguém argumente que devido a um risco na gravidez o aborto deveria ser liberado, e, basicamente, é isto que o blogueiro tenta fazer... E falha ridiculamente.
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Pra coroar, nas páginas amarelas da VEJA desta semana, Dom José insinuou (e católicos mais cegos têm afirmado) que os pais da menina foram coagidos a assinarem as autorizações para o aborto. Uma afirmação séria, com certeza, muito séria. Mas fico me perguntando: e se eles foram mesmo coagidos? Se eles foram, eu deixo a pergunta: quer dizer que eles estavam na DÚVIDA se deviam salvar a filha (também ela inocente) ou preservar duas crianças fruto de uma barbaridade? Não é atoa que tal desgraça tenha acontecido com esta menina: olha a qualidade de pais que ela tem, que titubearam e tiveram de ser coagidos a salvarem a vida da própria filha! Caralho, eu pensei que depois dos Nardoni eu já tinha visto de tudo...

### Não há qualquer insinuação... O que se sabe de gente que acompanhou o caso de perto é que houve sim o engano dos pais da menina, pessoas humildes.

Mas aqui o blogueiro vai mostrando suas reais motivações. O "e se eles foram mesmo coagidos?" mostra toda a face autoritária de quem se acha melhor que os pais da menina, que, tomando como base suas péssimas palavras, crê mesmo que a coação que levou ao aborto de duas crianças é justificável.

E mesmo esta "justificação" fundamenta-se em uma mentira: que a menina corria risco iminente de vida. Mas o que é uma mentira para quem acha que a coação é um meio válido para atingir um objetivo, não é mesmo? ###

Mas... pode ser que você esteja se perguntando o que eu acho, assim, em palavras e frases curtas, o que eu acho disso tudo. Bem, te digo: eu acho que, sob a presidência de Chico Bento XVI, o catolicismo caminha para trás. Cismando com a existência do Holocausto, ressuscitando a idéia de que a camisinha não serve para nada porque, segundo o Vaticano, "tem poros por onde o vírus do HIV pode passar", excomungando médicos e pais... Qual o próximo passo? Excomungar cientistas ou juntar lenha para as fogueiras?

### Aqui podemos ver toda a má-fé do blogueiro ao argumentar.

Ele pode achar o que quiser de S.S. Bento XVI e de suas ações, pois é livre para ter suas opiniões. Só que para ser levado a sério é preciso que ele consiga sustentar o que opina.

"Cismando com a existência do Holocausto"? Na verdade o autor do blog deve estar se referindo ao infeliz caso das declarações de D. Williamson. O que tem isto a ver com O Papa Bento XVI? Nada, absolutamente nada.

"Ressuscitando a idéia de que a camisinha não serve para nada"? Já que ele deseja atacar a posição católica sobre a questão, seria bem mais honesto se ele a abordasse sobre o ponto de vista moral, que é exatamente o ponto fundamental da proibição de métodos artificiais de contracepção. Mas para que se dar ao trabalho, não é mesmo? É infinitamente mais fácil colocar palavras na boca dos outros e jogar para a galera. Honestidade argumentativa, claro, é coisa para os fracos.

Mas o irônico é que o mesmo rapaz que acredita piamente em mentiras divulgadas, que desconhece a legislação brasileira, que autoritariamente está se lixando para o que realmente queriam os pais da criança, que pensa que pode bradar a laicidade do Estado como forma de forçar os católicos a baixarem a cabeça frente ao aborto, o verdadeiramente irônico é que ele se acha mesmo em posição de dar lições em alguém. E, mais ainda, pensa mesmo que ele e somente ele sabe o que é o certo para os rumos da Igreja.

P
fui... Sempre me surpreendo com os soluços megalômanos de alguns.

Sobre os cientistas, talvez o blogueiro devesse estudar um pouco e procurar saber sob a tutela de quem foram criadas as primeiras universidades. Talvez ele devesse tentar entender a importância de certas ordens religiosas tanto para a preservação do conhecimento quanto do desenvolvimento das ciências, economia e artes.

Quanto à questão das fogueiras... Creio que já podemos criar uma equivalente católica à Lei de Goodwin, que é assim enunciada: "À medida que uma discussão on-line se alonga, a probabilidade de uma comparação envolvendo Hitler ou o nazismo se aproxima de 1".

Seguindo esta linha de pensamento, posso até enunciar a Lei de Murat:
"Quanto menos um interlocutor conhece História da Igreja e quanto mais ele nutre ódio pelo catolicismo, a probabilidade de uma súbita citação da Inquisição aproxima-se de 1."
Citar termos que levam à emoção sem nem mesmo conhecer a realidade histórica na qual estavam inseridos é coisa típica dos tolos e dos intelectualmente desonestos. ###

É o que diz aquele velho ditado: você pode ficar calado e deixar que pensem que é um imbecil. Ou você pode abrir a boca e dar a eles certeza.

### Perfeito! Será que faltou espelho? ###

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