O jornalista Gilberto Dimenstein é um mestre. Mestre da empulhação, mestre do pensamento politicamente correto nacional, mestre de um jornalismo que há muito deixou de querer se basear em fatos e partiu, de cara limpa, para implantar a agenda e servir aos interesses de uma patota que se espalha em várias frentes do governo, da mídia e do ambiente cultural nacional.
É do jogo democrático que um indivíduo venha expressar suas opiniões. A seriedade com que estas serão acolhidas segue a mesma proporção em que elas são baseadas em fatos e em um raciocínio correto. A seriedade com que as opiniões de Dimenstein devem ser encaradas aproxima-se cada vez mais de zero. Talvez ele se preste mais para discorrer sobre o crescimento da demanda de aulas particulares de Mandarim ou sobre a invenção de um banheiro inteligente que indica quando uma pessoa bebeu além da conta. Assuntos deste tipo são abordados por ele em sua participação na Rádio CBN. Há quem goste...
Espera-se mais de um jornalista que chegou em sua posição, mas há quem aceite uma dose diária de futilidades e Dimenstein está aí mesmo para prover estas e outras necessidades.
Vez por outra, Dimenstein se mete também a querer encarar coisas sérias. Não sei se o jornalista perdeu a mão ou se nunca a teve, mas o fato é que ele vai mal quando sai de sua zona de conforto, que é a de notícias sobre aulas de Mandarim e de novidades sobre urinol. Vai ver que é por isto que ele se sentiu bem à vontade ao chamar o governador do RJ, Sérgio Cabral Filho, de "corajoso" apenas porque este tenta trazer ao debate o tema da liberação do aborto como uma das formas de encarar o problema da criminalidade.
Deixando de lado que o aborto é uma das formas mais baixas de covardia -- daí o absurdo em utilizar a palavra "coragem" -- tanto o jornalista quanto o governador parecem que andaram lendo o best-seller de Stephen Levitt, Freakonomics. Neste livro o professor Levitt pretendeu provar que a legalização do aborto foi uma das causas da queda da criminalidade nos E.U.A. Teve gente por aí que acreditou em tudo o que Levitt escreveu, provavelmente foi o que aconteceu com o governador e o jornalista. Tem gente que nem mesmo leu o que Levitt escreveu mas que acredita assim mesmo, pois, afinal de contas, ajuda na causa da liberação do aborto.
Quem leu ou quem não leu o que o professor Levitt escreveu devia tratar de fazer o trabalho completo, tentar se aprofundar um pouco mais na questão. Tivessem feito isto, poderiam saber que a tese de Levitt está muito longe de ser uma unamidade no ambiente acadêmico dos E.U.A. Lá, até mesmo a metodologia utilizada por Levitt para chegar a tais conclusões são bem criticadas.
Mas esta questão sobre aborto x criminalidade é um outro debate... O fato novo é Dimenstein dar declarações sobre a posição da Igreja em relação ao assunto. Em pequeno texto publicado na Folha online (clique aqui), o jornalista conseguiu a façanha de, em 3 pequenos parágrafos, juntar falta de conhecimento tanto sobre a Igreja quanto sobre assuntos relacionados ao problemas do aborto. É preciso muita experiência jornalística para em tão pouco espaço mostrar a forma como um assunto NÃO deve ser abordado. Mas... É Dimenstein quem faz parte do conselho editorial da Folha de São Paulo. Pior para o jornal...
Em relação à Igreja, o jornalista achou por bem começar seu curto texto alegando que a Igreja tem mesmo razão ao rejeitar o título de hipocrisia com que o presidente maliciosamente se referiu àqueles que lutam contra o aborto. O jornalista disse que a posição da Igreja é "coerente e deve ser respeitada", alegando que esta se baseia em "valores e crença em princípios religiosos".
Aqui, Dimenstein parece preparar o caminho para a alegação de que a posição da Igreja sobre este assunto é correta apenas para católicos. O jornalista demonstra apenas desconhecimento sobre a real posição da Igreja sobre este assunto.
A posição da Igreja, em primeiro lugar, proíbe o aborto porque este fere um direito que é fundamental a todos os seres humanos, o direito à vida. Independe se os pais são católicos, judeus, muçulmanos, espíritas ou mesmo sem religião ou ateus. É tática conhecida nos meios favoráveis ao aborto querer esvaziar o conteúdo da posição da Igreja dizendo que esta, se correta fosse, só o seria para os fiéis católicos. Não. O aborto, para um católico, adquire proporções maiores devido a explicitar uma desobediência a diretrizes claríssimas da Igreja, mas o erro do ato vale para qualquer ser humano.
No mesmo parágrafo em que espertamente defende a coerência da Igreja, o jornalista escreveu que a Igreja se defendeu alegando que "estímulo a métodos contraceptivos entre os jovens estimularia a permissividade sexual". Apenas isto? Não cabia, por parte do jornalista, alguma análise sobre uma tal alegação partindo da CNBB? Aliás, o que a CNBB realmente declarou pode ser lido aqui. Lá poderemos ver que o contexto correto em que a rejeição aos métodos artificiais de controle da natalidade se encaixa.
O jornalista faria melhor se tentasse analisar ou, quem sabe, contra-argumentar sobre a declaração da CNBB. Mas Gilbeto Dimenstein sente-se bem mais à vontade escrevendo textos curtos de 3 pequenos parágrafos, nos quais os fatos nem de passagem são tratados, do que partir para qualquer análise mais aprofundada, pois, ao final das contas, o que vale mesmo é que ele se posicione ao lado de sua patota.
Ficando ao lado de sua turminha e evitando ir mais fundo no tema, Dimenstein desvia de tentar falar algo contra a posição da CNBB. Ele evita ter de explicar que uma máquina de camisinhas nas escolas, disponibilizando preservativos para crianças e adolescentes, em nada estimularia uma precoce iniciação ou uma intensificação da vida sexual entre adolescentes e pré-adolescentes. Ele evita de ter de explicar que tal ambiente não é propício ao aumento da gravidez entre adolescentes. Ele evita ter de explicar o individualismo que vai agigantando-se na sociedade, em que cada um preocupa-se com seu próprio prazer e nada mais.
Ele, mestre da dissimulação, escreve que "como o catolicismo deve encarar métodos contraceptivos é um problema dos católicos". Hummmm... Não é, não. Como encarar os preservativos é um problema da sociedade como um todo e os católicos, como parte desta sociedade, têm total direito de participar do debate. A não ser que o jornalista ache que os católicos, devido ao simples fato de serem católicos, devem ser excluídos de tais discussões. Creio que ele não chegaria a tanto, apesar que isto não me causaria surpresa, pois em caso relativamente recente, na composição da famosa Comissão Tripartite, aquela que recomendou a revisão dos artigos Código Penal relacionados ao crime de aborto (surpresa!!!), a CNBB foi excluída exatamente por ser um órgão composto por religiosos, mas a alegação foi a de que em um Estado laico não pegava bem dar voz à CNBB.
Outro problema foi o jornalista referir-se à "cúpula da Igreja"... É uma outras destas táticas que foram produzidas com o passar do tempo e na qual tenta-se desqualificar qualquer posição tomada pela Igreja como se esta fosse apenas a posição de uma parte do clero, geralmente a parte mais ortodoxa. Tenta-se opor o clero aos fiéis leigos como forma de criar divisões e confusão no seio da Igreja. Infelizmente, há os que caem nestas armadilhas, mas a posição da Igreja, que é Una, permanece a mesma.
Mas o pior do artigozinho de Dimenstein estava guardado para o final. Apesar de tanta dissimulação, em texto tão pequeno não há como diluir e esconder certas intenções.
Dimenstein escreve que o problema "é o Estado, laico, aceitar pressupostos religiosos que orientam políticas públicas". Faltou o jornalista explicar onde a Igreja defende que seus pressupostos religiosos sejam tomados como base para o Estado laico. Teria ele alguma fonte para citar? Faltou vontade, capacidade ou espaço no artigo para trazer algum dado mais concreto? Se ele tem o direito de expressar uma opinião -- e tem mesmo este direito, e é bom que assim seja --, só não espere que todos o levem a sério apenas porque ele é do conselho editorial da Folha de São Paulo.
O grande problema não é o Estado aceitar "pressupostos religiosos" em suas políticas públicas, pois em um Estado laico a posição frente às crenças religiosas não é de afastamento, mas, sim, de neutralidade frente tanto aos crentes e não-crentes quanto aos crentes de várias denominações. Rejeitar alguma posição vinda de ambientes religiosos sob a alegação de que o Estado é laico equivale a uma forma velada de discriminação. Este é o grande problema.
Em seguida, Dimenstein, sempre compreensivo, diz entender que entende que padres e bispos se posicionem contrários ao preservativo, apesar de considerá-los retrógrados. Fora, novamente, tentar utilizar a tática batida de opor a hierarquia aos leigos ("padres e bispos"), o jornalista dá um salto e põe o rótulo de retrógrados aos "padres e bispos". Ok... É uma opinião. Assim como eu tenho o direito de achar seu texto de um primarismo completamente incompatível com sua posição na imprensa brasileira, ele tem o direito de rotular certas posições. Mais uma vez: só não espere ser levado a sério deste modo.
Quem seriam os "progressistas" então? Nem precisa muito raciocínio para sabermos que os tais "progressistas" fatalmente são aqueles que compartilham dos ideais da patota. Rotular alguém é tão mais fácil que ao menos procurar entender certas posições, não é mesmo? Para o jornalista, quem é a favor do preservativo é "de esquerda", "progressista"; quem é contra, "de direita", "conservador". Simples assim. Este é discurso do clubinho, da panelinha, da patota, levado ao seu último grau. "Progressista" para este pessoal é quem adere aos valores da patota, o resto é apenas o resto.
Na verdade, os de fora da patota nem mesmo merecem um discurso coerente...
Dimenstein, alegando sua ascendência judaica, em certo momento diz que acha erradas certas posições dos judeus ortodoxos, mas que "não será ninguém de fora do judaísmo que dirá como devem se comportar os rabinos (...)". Ué? Pega mal botar o rótulo de "retrógrados" aos judeus ortodoxos? Então é mais ou menos assim: judeus ortodoxos estão no máximo errados, em sua opinião de judeu; já os católicos ortodoxos e fiéis ao Papa são é retrógrados mesmo? Esta última opinião foi dada como o que? Judeu? Jornalista? Torcedor do Palmeiras? Taurino?
Ele se acha no direito de meter a colher em qualquer assunto em que a Igreja Católica se envolva, mas começa a gritar quando alguém de fora expressa alguma opinião sobre o judaísmo? Que um católico não force a barra em assuntos relacionados ao judaísmo e vice-versa é mais do que normal, é até mesmo desejável. O problema é que Dimenstein não quer opiniões de fora quando o judaísmo está em questão e, quando o catolicismo está em pauta, ele quer é rotular. O erro de Dimenstein está no fato de que ele quer relegar às religiões um papel secundário devido ao mantra cada vez mais atual do tal "Estado laico". Em nome do Estado laico, o que vemos atualmente é pura discriminação contra quem demonstra sua crença.
Logo depois, Dimenstein termina seu pequenino texto com uma pérola: "Mas que até agora o planejamento familiar tenha sido tão tímido por causa da Igreja Católica é uma irresponsabilidade coletiva --e, na minha opinião, isso sim é um crime contra a vida."
Ok. Nova opinião... É seu direito. Agora, dizer que o planejamento familiar no Brasil é tímido é um atentado contra qualquer fato do mundo real. Será que o jornalista poderia trazer alguns dados que fundamentam suas afirmações? Outra vez, o que falta? Capacidade, vontade ou espaço?
O planejamento familiar que ele chama de "tímido" devido à ação da Igreja foi o responsável pelo altíssimo índice de esterilizações na população feminina em idade fértil ocorrido no Brasil. Tanta "timidez" fez também o Brasil tornar-se uma nação com um índice de envelhecimento acelerado da população, o que pode ocasionar em médio prazo problemas de toda ordem. É a "timidez" que causa a ampla utilização de pílulas anticoncepcionais por parte de mulheres cada vez mais jovens.
O jornalista, faria bem melhor, bem mesmo, se trouxesse algum dado que indique que o Brasil tem um baixíssimo índice de esterilização, ou então que a pílula é proibida devida à ação da Igreja, ou ainda que a população está tornando-se cada vez mais jovem devido ao número excessivo de nascimentos. Onde estão os fatos, jornalista? Ou será que eles não mais importam? Vale qualquer coisa para agradar a patota, não é mesmo?
Por fim, sua opinião sobre o que é um "crime contra a vida" vale de nada. E é aqui que a falta de seriedade com que deve ser encarado este ínfimo texto mais se torna clara. Não há um dado, um sequer, que sustente sua tese de que o planejamento familiar é tímido no Brasil devido a uma ação da Igreja. Dimenstein fala em "irresponsabilidade coletiva", mas sua irresponsabilidade individual é a de, como jornalista, querer basear suas opiniões em coisa nenhuma, apenas em suas vontades, apenas no desejo de querer que suas opiniões, que beiram o preconceito puro, prevaleçam sobre as dos demais.
Que Dimenstein trilhe seu caminho, só não queira ser levado a sério...
É do jogo democrático que um indivíduo venha expressar suas opiniões. A seriedade com que estas serão acolhidas segue a mesma proporção em que elas são baseadas em fatos e em um raciocínio correto. A seriedade com que as opiniões de Dimenstein devem ser encaradas aproxima-se cada vez mais de zero. Talvez ele se preste mais para discorrer sobre o crescimento da demanda de aulas particulares de Mandarim ou sobre a invenção de um banheiro inteligente que indica quando uma pessoa bebeu além da conta. Assuntos deste tipo são abordados por ele em sua participação na Rádio CBN. Há quem goste...
Espera-se mais de um jornalista que chegou em sua posição, mas há quem aceite uma dose diária de futilidades e Dimenstein está aí mesmo para prover estas e outras necessidades.
Vez por outra, Dimenstein se mete também a querer encarar coisas sérias. Não sei se o jornalista perdeu a mão ou se nunca a teve, mas o fato é que ele vai mal quando sai de sua zona de conforto, que é a de notícias sobre aulas de Mandarim e de novidades sobre urinol. Vai ver que é por isto que ele se sentiu bem à vontade ao chamar o governador do RJ, Sérgio Cabral Filho, de "corajoso" apenas porque este tenta trazer ao debate o tema da liberação do aborto como uma das formas de encarar o problema da criminalidade.
Deixando de lado que o aborto é uma das formas mais baixas de covardia -- daí o absurdo em utilizar a palavra "coragem" -- tanto o jornalista quanto o governador parecem que andaram lendo o best-seller de Stephen Levitt, Freakonomics. Neste livro o professor Levitt pretendeu provar que a legalização do aborto foi uma das causas da queda da criminalidade nos E.U.A. Teve gente por aí que acreditou em tudo o que Levitt escreveu, provavelmente foi o que aconteceu com o governador e o jornalista. Tem gente que nem mesmo leu o que Levitt escreveu mas que acredita assim mesmo, pois, afinal de contas, ajuda na causa da liberação do aborto.
Quem leu ou quem não leu o que o professor Levitt escreveu devia tratar de fazer o trabalho completo, tentar se aprofundar um pouco mais na questão. Tivessem feito isto, poderiam saber que a tese de Levitt está muito longe de ser uma unamidade no ambiente acadêmico dos E.U.A. Lá, até mesmo a metodologia utilizada por Levitt para chegar a tais conclusões são bem criticadas.
Mas esta questão sobre aborto x criminalidade é um outro debate... O fato novo é Dimenstein dar declarações sobre a posição da Igreja em relação ao assunto. Em pequeno texto publicado na Folha online (clique aqui), o jornalista conseguiu a façanha de, em 3 pequenos parágrafos, juntar falta de conhecimento tanto sobre a Igreja quanto sobre assuntos relacionados ao problemas do aborto. É preciso muita experiência jornalística para em tão pouco espaço mostrar a forma como um assunto NÃO deve ser abordado. Mas... É Dimenstein quem faz parte do conselho editorial da Folha de São Paulo. Pior para o jornal...
Em relação à Igreja, o jornalista achou por bem começar seu curto texto alegando que a Igreja tem mesmo razão ao rejeitar o título de hipocrisia com que o presidente maliciosamente se referiu àqueles que lutam contra o aborto. O jornalista disse que a posição da Igreja é "coerente e deve ser respeitada", alegando que esta se baseia em "valores e crença em princípios religiosos".
Aqui, Dimenstein parece preparar o caminho para a alegação de que a posição da Igreja sobre este assunto é correta apenas para católicos. O jornalista demonstra apenas desconhecimento sobre a real posição da Igreja sobre este assunto.
A posição da Igreja, em primeiro lugar, proíbe o aborto porque este fere um direito que é fundamental a todos os seres humanos, o direito à vida. Independe se os pais são católicos, judeus, muçulmanos, espíritas ou mesmo sem religião ou ateus. É tática conhecida nos meios favoráveis ao aborto querer esvaziar o conteúdo da posição da Igreja dizendo que esta, se correta fosse, só o seria para os fiéis católicos. Não. O aborto, para um católico, adquire proporções maiores devido a explicitar uma desobediência a diretrizes claríssimas da Igreja, mas o erro do ato vale para qualquer ser humano.
No mesmo parágrafo em que espertamente defende a coerência da Igreja, o jornalista escreveu que a Igreja se defendeu alegando que "estímulo a métodos contraceptivos entre os jovens estimularia a permissividade sexual". Apenas isto? Não cabia, por parte do jornalista, alguma análise sobre uma tal alegação partindo da CNBB? Aliás, o que a CNBB realmente declarou pode ser lido aqui. Lá poderemos ver que o contexto correto em que a rejeição aos métodos artificiais de controle da natalidade se encaixa.
O jornalista faria melhor se tentasse analisar ou, quem sabe, contra-argumentar sobre a declaração da CNBB. Mas Gilbeto Dimenstein sente-se bem mais à vontade escrevendo textos curtos de 3 pequenos parágrafos, nos quais os fatos nem de passagem são tratados, do que partir para qualquer análise mais aprofundada, pois, ao final das contas, o que vale mesmo é que ele se posicione ao lado de sua patota.
Ficando ao lado de sua turminha e evitando ir mais fundo no tema, Dimenstein desvia de tentar falar algo contra a posição da CNBB. Ele evita ter de explicar que uma máquina de camisinhas nas escolas, disponibilizando preservativos para crianças e adolescentes, em nada estimularia uma precoce iniciação ou uma intensificação da vida sexual entre adolescentes e pré-adolescentes. Ele evita de ter de explicar que tal ambiente não é propício ao aumento da gravidez entre adolescentes. Ele evita ter de explicar o individualismo que vai agigantando-se na sociedade, em que cada um preocupa-se com seu próprio prazer e nada mais.
Ele, mestre da dissimulação, escreve que "como o catolicismo deve encarar métodos contraceptivos é um problema dos católicos". Hummmm... Não é, não. Como encarar os preservativos é um problema da sociedade como um todo e os católicos, como parte desta sociedade, têm total direito de participar do debate. A não ser que o jornalista ache que os católicos, devido ao simples fato de serem católicos, devem ser excluídos de tais discussões. Creio que ele não chegaria a tanto, apesar que isto não me causaria surpresa, pois em caso relativamente recente, na composição da famosa Comissão Tripartite, aquela que recomendou a revisão dos artigos Código Penal relacionados ao crime de aborto (surpresa!!!), a CNBB foi excluída exatamente por ser um órgão composto por religiosos, mas a alegação foi a de que em um Estado laico não pegava bem dar voz à CNBB.
Outro problema foi o jornalista referir-se à "cúpula da Igreja"... É uma outras destas táticas que foram produzidas com o passar do tempo e na qual tenta-se desqualificar qualquer posição tomada pela Igreja como se esta fosse apenas a posição de uma parte do clero, geralmente a parte mais ortodoxa. Tenta-se opor o clero aos fiéis leigos como forma de criar divisões e confusão no seio da Igreja. Infelizmente, há os que caem nestas armadilhas, mas a posição da Igreja, que é Una, permanece a mesma.
Mas o pior do artigozinho de Dimenstein estava guardado para o final. Apesar de tanta dissimulação, em texto tão pequeno não há como diluir e esconder certas intenções.
Dimenstein escreve que o problema "é o Estado, laico, aceitar pressupostos religiosos que orientam políticas públicas". Faltou o jornalista explicar onde a Igreja defende que seus pressupostos religiosos sejam tomados como base para o Estado laico. Teria ele alguma fonte para citar? Faltou vontade, capacidade ou espaço no artigo para trazer algum dado mais concreto? Se ele tem o direito de expressar uma opinião -- e tem mesmo este direito, e é bom que assim seja --, só não espere que todos o levem a sério apenas porque ele é do conselho editorial da Folha de São Paulo.
O grande problema não é o Estado aceitar "pressupostos religiosos" em suas políticas públicas, pois em um Estado laico a posição frente às crenças religiosas não é de afastamento, mas, sim, de neutralidade frente tanto aos crentes e não-crentes quanto aos crentes de várias denominações. Rejeitar alguma posição vinda de ambientes religiosos sob a alegação de que o Estado é laico equivale a uma forma velada de discriminação. Este é o grande problema.
Em seguida, Dimenstein, sempre compreensivo, diz entender que entende que padres e bispos se posicionem contrários ao preservativo, apesar de considerá-los retrógrados. Fora, novamente, tentar utilizar a tática batida de opor a hierarquia aos leigos ("padres e bispos"), o jornalista dá um salto e põe o rótulo de retrógrados aos "padres e bispos". Ok... É uma opinião. Assim como eu tenho o direito de achar seu texto de um primarismo completamente incompatível com sua posição na imprensa brasileira, ele tem o direito de rotular certas posições. Mais uma vez: só não espere ser levado a sério deste modo.
Quem seriam os "progressistas" então? Nem precisa muito raciocínio para sabermos que os tais "progressistas" fatalmente são aqueles que compartilham dos ideais da patota. Rotular alguém é tão mais fácil que ao menos procurar entender certas posições, não é mesmo? Para o jornalista, quem é a favor do preservativo é "de esquerda", "progressista"; quem é contra, "de direita", "conservador". Simples assim. Este é discurso do clubinho, da panelinha, da patota, levado ao seu último grau. "Progressista" para este pessoal é quem adere aos valores da patota, o resto é apenas o resto.
Na verdade, os de fora da patota nem mesmo merecem um discurso coerente...
Dimenstein, alegando sua ascendência judaica, em certo momento diz que acha erradas certas posições dos judeus ortodoxos, mas que "não será ninguém de fora do judaísmo que dirá como devem se comportar os rabinos (...)". Ué? Pega mal botar o rótulo de "retrógrados" aos judeus ortodoxos? Então é mais ou menos assim: judeus ortodoxos estão no máximo errados, em sua opinião de judeu; já os católicos ortodoxos e fiéis ao Papa são é retrógrados mesmo? Esta última opinião foi dada como o que? Judeu? Jornalista? Torcedor do Palmeiras? Taurino?
Ele se acha no direito de meter a colher em qualquer assunto em que a Igreja Católica se envolva, mas começa a gritar quando alguém de fora expressa alguma opinião sobre o judaísmo? Que um católico não force a barra em assuntos relacionados ao judaísmo e vice-versa é mais do que normal, é até mesmo desejável. O problema é que Dimenstein não quer opiniões de fora quando o judaísmo está em questão e, quando o catolicismo está em pauta, ele quer é rotular. O erro de Dimenstein está no fato de que ele quer relegar às religiões um papel secundário devido ao mantra cada vez mais atual do tal "Estado laico". Em nome do Estado laico, o que vemos atualmente é pura discriminação contra quem demonstra sua crença.
Logo depois, Dimenstein termina seu pequenino texto com uma pérola: "Mas que até agora o planejamento familiar tenha sido tão tímido por causa da Igreja Católica é uma irresponsabilidade coletiva --e, na minha opinião, isso sim é um crime contra a vida."
Ok. Nova opinião... É seu direito. Agora, dizer que o planejamento familiar no Brasil é tímido é um atentado contra qualquer fato do mundo real. Será que o jornalista poderia trazer alguns dados que fundamentam suas afirmações? Outra vez, o que falta? Capacidade, vontade ou espaço?
O planejamento familiar que ele chama de "tímido" devido à ação da Igreja foi o responsável pelo altíssimo índice de esterilizações na população feminina em idade fértil ocorrido no Brasil. Tanta "timidez" fez também o Brasil tornar-se uma nação com um índice de envelhecimento acelerado da população, o que pode ocasionar em médio prazo problemas de toda ordem. É a "timidez" que causa a ampla utilização de pílulas anticoncepcionais por parte de mulheres cada vez mais jovens.
O jornalista, faria bem melhor, bem mesmo, se trouxesse algum dado que indique que o Brasil tem um baixíssimo índice de esterilização, ou então que a pílula é proibida devida à ação da Igreja, ou ainda que a população está tornando-se cada vez mais jovem devido ao número excessivo de nascimentos. Onde estão os fatos, jornalista? Ou será que eles não mais importam? Vale qualquer coisa para agradar a patota, não é mesmo?
Por fim, sua opinião sobre o que é um "crime contra a vida" vale de nada. E é aqui que a falta de seriedade com que deve ser encarado este ínfimo texto mais se torna clara. Não há um dado, um sequer, que sustente sua tese de que o planejamento familiar é tímido no Brasil devido a uma ação da Igreja. Dimenstein fala em "irresponsabilidade coletiva", mas sua irresponsabilidade individual é a de, como jornalista, querer basear suas opiniões em coisa nenhuma, apenas em suas vontades, apenas no desejo de querer que suas opiniões, que beiram o preconceito puro, prevaleçam sobre as dos demais.
Que Dimenstein trilhe seu caminho, só não queira ser levado a sério...
Um comentário:
ótimo texto, parabéns!!!!
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