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domingo, fevereiro 12, 2006

Advogadas medrosas

O debate entre o Procurador Cícero Harada e a socióloga Heleieth Saffioti ganha mais um episódio. Desta vez, as mesmas quatro advogadas que conseguiram que o artigo da professora Saffioti fosse publicado na página da OAB-SP produziram uma peça interessantíssima, com o singelo título de "Eu tenho medo". Para acessar a íntegra deste texto, clique aqui.

Neste texto, as advogadas em tom alarmista e fantasioso, tecem lamentações, que preferiram chamar de "medos". São 9, ao todo, que serão analisados um a um em uma série de entradas neste blog.

Aqui vamos nós...

Medo 1) "EU TENHO MEDO quando a revista Consultor Jurídico divulga a posição do advogado Cláudio Castello de Campos Pereira que, em petição dirigida ao E.Tribunal de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil, Secção de São Paulo, datada de 12 de dezembro de 2005, se auto-intitula como Assessor da Presidência da Terceira Turma desse Tribunal, requerendo, em síntese, a expiação pública do advogado José Dirceu, omitindo-se a diretoria da Seccional em publicamente denunciar essa insensatez."

Quem lê a manifestação das 4 advogadas percebe o quanto está deslocado este primeiro "medo". Ele pode ser colocado em uma categoria à parte, pois, nota-se, nada tem a ver com o que causou este texto, que foi, claro está, toda a indignação com o artigo do Dr. Cicero Harada. Porém, este primeiro medo dá um bom panorama de a quantas vai o pensamento destas senhoras.

Qual é exatamente o problema em um advogado requerer formalmente junto ao Tribunal de Ética e Disciplina da OAB que um de seus membros tenha suspensa sua inscrição como advogado? Acaso as digníssimas senhoras pensam que José Dirceu está acima da Lei? O advogado, Dr. Claudio Castello de Campos Pereira, alega que José Dirceu não possui a idoneidade moral necessária para ser membro da Ordem após ter sido cassado por seus pares por quebra de decoro parlamentar.

Pode ser que os responsáveis por tal julgamento cheguem à conclusão que o que não serve para a Câmara dos Deputados serve para a OAB. Será apenas para se lamentar, pois atualmente parece mais que o contrário é que seria normal... Mas, fazer o que? Se entenderem assim, tudo bem! É característica do jogo. Porém, sentir-se indignado ou com "medo" que seja dado andamento a uma representação disciplinar é coisa para lá de estranha, mais ainda em se tratando de pessoas da própria classe de advogados.

Curioso é tais advogadas, zelosas que são pelo cumprimento das leis, não sentirem nem uma pontinha de indignação quanto à inconstitucionalidade da tramitação de um Projeto de Lei, como já provado pelo Dr. Celso Galli Coimbra (clique aqui).

Medo 2) "EU TENHO MEDO quando a Ordem dos Advogados do Brasil, Secção de São Paulo, afrontando o direito de seus/suas inscritos/as em professarem ou não credo religioso, realiza uma missa de natal com um proeminente representante do conservadorismo da Igreja Católica, no Brasil, Padre Marcelo, no ginásio do Ibirapuera."

As advogadas deveriam procurar esclarecer melhor este "medo". Quem tem medo de escuridão, por exemplo, sabe anunciar muito bem o que teme: "O escuro me dá arrepios!!"; quem tem medo de marimbondos, a mesma coisa: "Não os suporto voando ao meu redor!". No caso destas senhoras, qual é, especificamente, seu "medo"?

Já que as digníssimas não conseguiram ser claras o suficiente, vamos tentar, por partes, advinhar este "medo":

a) Seria medo que a OAB-SP tenha promovido uma Missa de Natal?

Seria isto um problema tão grande a ponto de gerar um "medo" em alguém? Em primeiro lugar, é bom que se esclareça que a OAB-SP não realiza Missa alguma, ela apenas promove. Quem realiza Missas é a Igreja, com seus sacerdotes. Voltemos à questão: a promoção de uma Missa é motivo para "medo"? Eu entenderia o "medo" se as advogadas fossem obrigadas a assistir a Missa, mas não foi isto que ocorreu e jamais ocorrerá.


b) Seria medo por uma suposta afronta à liberdade de professarem ou não um credo religioso?

Não se consegue entender um tal "medo" porque em nada a promoção de uma Missa afronta a liberdade dos inscritos na OAB-SP de professarem ou não um credo religioso. Houve algum constrangimento a que aderissem a algum credo religioso? Certamente não... Analogia boba: será que a promoção de um jogo de futebol beneficiente causaria "medo" aos membros que preferem o voleibol; seria isto uma afronta à sua "liberdade esportiva"?


c) Seria medo do Padre Marcelo, por ele ser um "proeminente representante do conservadorismo da Igreja Católica"?

Aí seria o caso de saber o que as tais advogadas chamam de "conservadorismo". Eu, por exemplo, tenho uma espiritualidade de raízes beneditinas, o que me deixa bem distante da espiritualidade de Pe. Marcelo Rossi. Porém tenho por ele um grande respeito, como tenho por qualquer pessoa, mais ainda por se tratar de um sacerdote. Seria eu, então, um "progressista"?

Mas creio que elas não se importam muito com a questão da espiritualidade... O conservadorismo deve ser relacionado a questões morais - principalmente moral sexual, arrisco-me a dizer. O que parece indicar que, para as advogadas, o ideal seria que um padre que aceite o aborto rezasse a Missa promovida pela OAB-SP. Procurando bem elas até podem conseguir achar um padre destes - infelizmente, há sacerdotes que se desviam completamente de sua missão -, mas seria então o caso de perguntarmos: o tal "medo" resume-se apenas a quem vai rezar a Missa?

Então o que elas desejam mesmo é que apenas determinados padres, aqueles que recebam um selo de qualidade "progressita" dado por elas, possam rezar a Missa?

Não se consegue entender qual é, afinal, este "medo" das advogadas. Se é medo de quem vai rezar, da promoção da Missa, de uma suposta "afronta"... É de se temer advogadas que não conseguem ser claras no que escrevem.

Continuarei a tentar entender mais dos 9 "medos" na próxima entrada.

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